Título: Para Furlan, governo federal ainda não sabe como trabalhar em equipe
Autor:
Fonte: Valor Econômico, 27/04/2005, Brasil, p. A5

O ministro do Desenvolvimento, Luiz Fernando Furlan, disse ontem, durante solenidade de lançamento do Mapa Estratégico da Indústria, na Confederação Nacional da Indústria (CNI), que "infelizmente, o governo não sabe trabalhar em equipe". Não raro, segundo ele, percebe-se que dois ou três ministérios estão trabalhando no mesmo rumo, sobre o mesmo assunto, sem conhecimento mútuo. Furlan assinalou que quando há um trabalho de coordenação das ações do governo, é possível obter resultados positivos. Como exemplo, citou a a coordenação do ministro da Casa Civil, José Dirceu, em relação aos portos. Dirceu trouxe para o Palácio do Planalto, disse o ministro, trabalhos que estavam sendo feitos, com resultados fracos, por cinco ministérios: Transportes, Integração Nacional, Desenvolvimento, Agricultura e Minas e Energia. No momento em que se formou uma força-tarefa, juntando todos os ministérios, os problemas foram identificados e as ações de correção foram tomadas, disse o ministro. "É necessário que haja essa função de coordenação nos mais variados setores. Parte disso está sendo feito pelo próprio presidente, quando se trata de questões de meio ambiente, infra-estrutura, transportes e energia." O Mapa Estratégico da Indústria foi preparado durante mais de seis meses e listou dezenas de indicadores e metas que, se alcançados, vão consolidar o Brasil como uma economia competitiva e inovadora, como antecipado pelo Valor. No cenário traçado pelo Mapa, o crescimento médio do Produto Interno Bruto (PIB) ficaria em 5,5% entre 2007 e 2015. Daqui a dez anos, os juros reais também deveriam cair dos atuais 13% para 4%. A carga tributária teria de recuar dos 35% do PIB para 33% em 2010. A educação e a formação profissional dos trabalhadores também é uma grande preocupação dos industriais. Furlan disse que no grupo de países "BRIC" - Brasil, Rússia, Índia e China -, o Brasil é o que tem o menor número de problemas. Mas alertou para a principal matéria-prima: gente preparada. O presidente da Companhia Vale do Rio Doce, Roger Agnelli, presente à solenidade, revelou que a empresa vem superando as dificuldades nessa área com apoio e convênios com diversas universidades. "Conseqüência do marasmo de 20 anos na área de infra-estrutura, faltam no mercado engenheiros especializados em ferrovias, metalurgia, eletricidade e projetos. Também há carência de técnicos. Até fomos obrigados a recrutar maquinistas que já estavam aposentados", informou Agnelli. "Prioridade é onde vai o recurso e não o discurso. Em Brasília, aprendi que o urgente atropela todos os dias o importante. O Mapa traz o que é importante", disse o ministro Furlan. Para o presidente da CNI, deputado Armando Monteiro Neto (PTB-PE), os próximos dez anos poderão ser diferentes e a indústria não quer perder essa oportunidade. "Hoje, o Estado drena recursos do setor privado via tributação excessiva, as taxas de juros são extravagantes, o crédito é escasso e inacessível, a infra-estrutura é insuficiente e inadequada. Atuar sobre essa agenda é liberar energias para o crescimento. Seu impacto é horizontal e afeta positivamente todas as empresas, independentemente de porte, segmento e localização", disse Monteiro Neto.(AG)