Título: PT aposta na verticalização para reeleger o presidente
Autor: Raymundo Costa
Fonte: Valor Econômico, 27/04/2005, Política, p. A7

O Planalto venceu ontem a primeira batalha da sucessão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Graças a uma manobra regimental, o PT adiou para a próxima semana, por enquanto, a votação do projeto de emenda constitucional que determina o fim da verticalização nas eleições. O governo considera fundamental a verticalização para a reeleição de Lula por entender que é a única maneira de amarrar numa ampla coligação os partidos que integram a base de sustentação política, de reduzir o número de candidatos em 2006 e isolar a oposição. O projeto em curso no Planalto é a formação de uma coligação para reeleger Lula integrada pelo PT, PMDB, PTB, PL, PSB, PCdoB e talvez até o PP. Aliados na coalizão governista em nível federal, esses partidos mantêm outras associações nos Estados. Se não fechar por cima, segundo avaliação de dirigentes petistas, ocorrerá um "estouro da boiada", cada um procurando a aliança estadual que lhe for mais conveniente. É o que o Planalto pretende evitar ao apostar na manutenção da verticalização. Na ponta do lápis, a conta governista faz sentido, mas há situações adversas. De imediato, na hipótese de fechar a coligação com seis ou sete partidos, restringiria o número de candidatos - restariam o PSDB e PFL, que podem concorrer em aliança, e o candidato de um ou outro partido nanico. Esse seria o melhor dos mundos para Lula: quanto menos candidatos, maior é a possibilidade de a eleição ser resolvida no primeiro turno, segundo avaliação corrente no governo. Com os seis ou sete partidos "amarrados", pode isolar a oposição nos Estados. São vários as hipóteses analisadas. Tendo o PMDB, restringe os passos da ala do partido que é contrária à aliança, como os governadores da região Sul, de Pernambuco e do Distrito Federal. Em Brasília, onde Joaquim Roriz não admite coligar-se ao PT, o governador não poderia se associar ao PFL de Paulo Octávio e José Roberto Arruda. No Sul, Germano Rigotto não poderia aliar-se ao ex-governador Antônio Brito, que é do PPS. Em São Paulo, a eventual adesão do PP à chapa de Lula impediria o ex-prefeito Paulo Maluf de apoiar Geraldo Alckmin, de acordo com a avaliação petista. Com o PMDB, o PTB e o PL na aliança, em Minas o Planalto bloquearia de vez qualquer possível entendimento do vice José Alencar e do ministro Walfrido Mares Guia (Turismo) com o PSDB do governador Aécio Neves. A situação se inverte, no entanto, na Bahia: o "chapão" delineado no Planalto impediria os tucanos de apoiar o provável candidato do PT ao governo, o ministro Jaques Wagner (Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social). A verticalização foi utilizada pela primeira vez na eleição de 2002. A regra impede partidos com candidato a presidente de se coligar nos Estados. À exceção do PT e do PSDB, que está rachado, os grandes partidos estão decididos a extinguir a norma. Falando em "nome do PT", José Genoino afirma que o fim da verticalização não é "uma questão eleitoral" para o partido. "O fato é que ela pioraria o quadro político-partidário, que já é ruim". Na opinião do presidente petista, as eleições proporcionais "não vão eleger bancadas, vão eleger deputados - ninguém vai atribuir sua eleição ao partido, mas às alianças que fez. Radicaliza a bagunça, vai ser o vale-tudo". Para impedir o fim da verticalização, a estratégia do PT é a obstrução: a emenda precisa ser aprovada, por três quintos dos votos da Câmara, até o início de outubro para ter validade nas eleições de 2006. Como se trata de emenda constitucional, não pode ser vetada pelo presidente da República. É sancionada diretamente pelo Congresso. Diante da adesão dos partidos ao projeto, Genoino está pessimista quanto ao êxito da estratégia governista, mas vai insistir nela. O projeto deve voltar à pauta da Comissão de Constituição, Justiça e Redação da Câmara na terça-feira da próxima. Aprovada sua "admissibilidade", será constituída uma comissão especial.