Título: Japão registra seu sétimo ano de deflação em 2004
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Fonte: Valor Econômico, 27/04/2005, Internacional, p. A11

Os preços ao consumidor no Japão caíram pelo sétimo ano seguido no ano fiscal encerrado em março, confirmando que a economia continua deflacionária e forçará o banco central do país a manter sua política monetária frouxa. A queda de 0,2% no índice de preços ao consumidor (IPC) foi bem menos severa que a dos dois anos anteriores, de 0,8%.

Mas uma grande queda nos preços dos serviços públicos desregulamentados - incluindo energia elétrica e despesas com telefones fixos - pode ter dado um novo ímpeto à deflação. A alta da gasolina tampouco conseguiu contrabalançar a queda nos preços do arroz e dos computadores, apontaram economistas. O núcleo da inflação, que exclui alimentos e energia, subiu 0,3% em março ante 0,2% de fevereiro. O Banco do Japão (o BC japonês) deverá recuar amanhã na previsão de um retorno da inflação entre este ano e o próximo, quando ele publica um relatório semestral sobre as tendências futuras de preços e da atividade econômica. Em outubro, o banco anunciou a previsão de retorno de uma inflação branda de 0,1% para o ano fiscal que se encerra em março de 2006. "As causas da deflação são difíceis de serem especificadas, uma vez que os preços de alguns produtos começam a subir e os lucros das empresas continuam fortes. Mas a verdade é que continuamos em deflação e precisamos continuar com os esforços para derrotá-la", disse Sadakazu Tanigaki, o ministro das Finanças japonês. Outros dados anunciados ontem contribuíram para o que economistas afirmam ser um quadro vago de uma economia que luta para sair da recessão branda de 2004. Os gastos dos domicílios japoneses aumentaram 1,7% em março, frente a 2003, enquanto o índice de desemprego sazonalmente ajustado caiu 0,2 pontos, para 4,5%. Em um relatório separado, o governo divulgou que o desemprego caiu para 4,5% em março, frente aos 4,7% de fevereiro. Os economistas esperavam que a taxa ficasse em 4,6%. Atsushi Nakajima, principal economista do banco Mizuho, disse: "A situação atual está longe de definida, mas estou bastante confiante em relação à economia no futuro próximo". Sob a liderança de Junichiro Koizumi, que ontem iniciou seu quinto ano como premiê, o Japão finalmente começou a crescer em termos nominais, com o PIB aumentando 1,1% desde 2002. "Fatores especiais como cortes nas contas de telefones irão exercer um grande impacto sobre o núcleo do índice durante todo o atual ano fiscal, embora o ritmo da deflação esteja desacelerando", disse Kazuhiko Sano, pesquisador estrategista do Nikko Citigroup. Desde 1991, está é a quarta vez em que o Japão entra em recessão. As exportações do país não ganharam ritmo e os gastos do consumidor - que representam mais da metade do PIB do país - ainda estão longe de compensar a debilidade do mercado externo. O Japão cresceu a uma taxa anualizada de 0,5% no quarto trimestre de 2004. A perspectiva é que registre uma expansão de 1,2% neste ano fiscal, que termina em março de 2005, e 1,5% no seguinte. A divulgação do IPC fez o rendimento do bônus referencial do governo japonês de 10 anos girar ontem em torno do nível mais baixo em 14 meses, 1,250%.