Título: Estudo de café transgênico ainda restrito a laboratório
Autor: Mônica Scaramuzzo
Fonte: Valor Econômico, 27/04/2005, Agronegócios, p. B14

Enquanto as pesquisas com soja transgênica avançam no país, impulsionadas, sobretudo, pelos recursos privados, os estudos com café transgênico no Brasil ainda estão restritos ao laboratório. O pesquisador Luiz Gonzaga Vieira, coordenador do laboratório de biotecnologia do Instituto Agronômico do Paraná (Iapar), disse que deverá encaminhar, até o início de 2006, projeto à Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNbio) para ter a autorização para fazer os testes em campo. Segundo Vieira, essa proposta poderia ter sido encaminhada já há alguns meses, mas como o laboratório do Iapar tem sob sua responsabilidade outros sete projetos envolvendo café - entre os quais o genoma do café e o desenvolvimento de variedades convencionais do grão - não há recursos humanos e nem físicos para acelerar os projetos em curso. "Para preparar a proposta do café transgênico teria de parar os outros projetos que estão em andamento." No país, as pesquisas com café transgênico e o genoma são encabeçadas pelo Iapar. A instituição faz parte do Consórcio Brasileiro de Pesquisa e Desenvolvimento do Café (CBP&D/Café), que é coordenado pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), e conta com a participação de outros 40 institutos de pequisas do país. Silvio Crestana, presidente da Embrapa, disse ao Valor, na segunda-feira, que está tentando negociar recursos do Funcafé (fundo de recursos do setor cafeeiro) para agilizar os projetos em curso. Linneu da Costa Lima, secretário de Produção e Comercialização do Ministério da Agricultura, reconhece que os recursos para pesquisa estão escassos por conta do orçamento apertado do ministério. Mas, segundo ele, a prioridade do país é o genoma do café, não pesquisas em café transgênico. As pesquisas com café transgênico começaram no país há três anos, segundo Vieira. Estudos parecidos são conduzidos na França e no Japão. Mas apenas a França faz testes em campo. As perspectivas para a comercialização de café transgênicos no país são para o longo prazo, de dez a doze anos. Em maio, Vieira vai participar em Londres de um seminário internacional sobre café transgênico. Segundo o pesquisador, há dois tipos de pesquisas do café em curso no país. O primeiro é o café com gene resistente a herbicidas. "Essas pesquisas são feitas com os grãos arábica e robusta", disse. O outro projeto foca a maturação uniforme do café. "O amadurecimento uniforme permite que a colheita do grão seja feita de uma só vez, reduzindo os custos com a colheita, e também evita a incidência de pragas." A colheita representa hoje cerca de 30% dos custos com café. Os pesquisadores da Iapar também trabalham há cinco anos com laranja transgênica resistente ao cancro cítrico e com porta-enxertos resistentes à seca. Assim como o café, essas pesquisas também estão restritas aos laboratórios.