Título: Brasil exportará lácteos para o México
Autor: Mauro Zanatta
Fonte: Valor Econômico, 27/04/2005, Agronegócios, p. B14

Após dois anos de intensa negociação, o governo brasileiro conseguiu abrir o mercado do maior importador de lácteos do mundo. O ministro Roberto Rodrigues anunciou um acordo comercial com o México para iniciar as vendas de leite e derivados ainda neste semestre. "Temos aumentado a produção de leite a uma taxa superior ao consumo. Abrir novos mercados é, portanto, essencial", disse o ministro durante encontro da Embrapa, na segunda à noite. As negociações foram desemperradas com a visita oficial de Rodrigues e de representantes do setor privado ao México, na semana passada. Os mexicanos insistiam em abrir o mercado de ovos do Brasil. "Mas eles tiveram uma suspeita de foco de gripe aviária por lá e tudo ficou em compasso de espera". O México importa anualmente 260 mil toneladas de leite em pó, 90 mil toneladas de queijo e 40 mil toneladas de manteiga, entre outros produtos. Os mexicanos importam, via companhias estatais, US$ 1 bilhão de leite em pó para abastecer os programas sociais. Seus principais fornecedores são União Européia, Austrália, Nova Zelândia, Estados Unidos, Argentina, Uruguai e Chile. A indústria comemorou discretamente a abertura. "Não sabemos se haverá tarifas, direitos ou sobrepreços", ressalvou José Pereira Campos, presidente da Itambé e da Confederação Brasileira de Cooperativas de Laticínios (CBCL). "Também queremos vender com a nossa marca e direto no varejo", afirmou. O diretor de Assuntos Corporativos da Nestlé, Carlos Faccina, disse que a medida ajudará a firmar o Brasil no mercado externo. "Será uma ótima oportunidade", disse. Neste ano, o Brasil produzirá 24,5 bilhões de litros de leite fluído. Em 2004, o país exportou US$ 95 milhões em lácteos para mais de 55 países. Para vencer as resistências mexicanas, a missão brasileira defendeu um relatório de 3,5 mil páginas enviado no fim de 2004. O México queria garantias sobre as condições sanitárias do rebanho brasileiro e as ações do governo para eliminar a febre aftosa. O Brasil tem hoje 15 estados livres da doença, mas tem dificuldades em fazer avançar o programa de erradicação da aftosa nas regiões Norte e Nordeste do país. Também surtiu efeito a pressão dos importadores mexicanos, que buscam baratear os custos do produto fornecido por outros países. Agora, a Secretaria de Economia do México, que regulamenta as importações, decidirá sobre o tamanho da cota e as tarifas aplicadas ao produto brasileiro.