Título: Investimento estrangeiro direto exibe forte alta em março e abril
Autor: Alex Ribeiro
Fonte: Valor Econômico, 27/04/2005, Finanças, p. C

Os investimentos estrangeiros diretos emitem sinais de vigor em março e abril. Dados divulgados pelo Banco Central mostram que estão ingressando capitais de boa qualidade no país - e que a abundância de dólares no mercado de câmbio não se explica apenas por capitais que buscam lucros com os altos juros. Em março, o ingresso líquido de investimentos estrangeiros diretos somou US$ 1,402 bilhão, cifra que representa quase o dobro dos US$ 703 milhões registrados no mesmo mês de 2004. Para abril, as perspectivas são ainda mais promissoras - até anteontem, o BC já havia registrado um ingresso de US$ 2,4 bilhões. A expectativa é que, até o fim deste mês, chegue a US$ 2,8 bilhões. O número excepcional em abril se deve à operação de compra e troca de ações de minoritários da AmBev. Esse negócio movimentou US$ 1,384 bilhão, dos quais US$ 736 milhões representaram o ingresso efetivo de dólares, e US$ 648 milhões, a troca de ações da AmBev por papéis da Inbev, a empresa criada na fusão da cervejaria brasileira com a Interbrew. Mesmo sem essa operação, entretanto, o fluxo de investimentos teria se mantido na casa do US$ 1,4 bilhão, volume dentro da média mensal necessária para que seja atingida a projeção de ingressos de US$ 16 bilhões do BC para o ano. Esses altos volumes de investimento estão sendo decisivos - ao lado do bom desempenho das contas correntes - para criar um ambiente de abundância de dólares no mercado. Juntos, investimentos diretos e saldo da conta corrente somam um fluxo de US$ 31,648 bilhões nos 12 meses encerrados em março, cifra que equivale a 5,11% do PIB. Em tese, a alta taxa de juros praticada pelo BC deveria estar atraindo capitais de curto prazo, mas não é o que mostram os números da conta financeira e de capitais. Os investimentos em títulos de renda fixa negociados no país - importante porta de entrada do capital especulativo em anos recentes - somaram apenas US$ 54 milhões (em papéis de médio e longo prazos) e US$ 36 milhões (curto prazo). As captações do setor privado no exterior somaram US$ 439 milhões em março, o que significa que foram renovados 101% dos papéis e empréstimos diretos que tiveram vencimento no mês. Há também forte entrada de investimentos em ações - de US$ 954 milhões -, mas esse movimento não está ligado aos altos juros. Pelo contrário: juros altos reduzem as perspectivas de lucros das empresas e tornam as ações menos atrativas. Nos dados parciais de abril, as captações do setor privado perderam parte do vigor. As empresas e instituições financeiras estão rolando apenas 24% dos papéis vencidos no mês. No caso dos empréstimos diretos, a taxa de renovação é de 226%; mas, devido a sua baixa representatividade na divida total, a taxa de rolagem de forma geral é de 42%. O chefe do Departamento Econômico do BC, Altamir Lopes, explica que o baixo nível de rolagem da dívida privada se deve ao aumento da volatilidade nos mercados internacionais e também à concentração de vencimentos em abril (US$ 849 milhões). Há, também, um componente mais estrutural no baixo nível de rolagem - as empresas já vinham evitando renovar as suas dívidas no exterior para escapar do risco cambial. No ano passado, por exemplo, a taxa de renovação foi de 65%. A contrapartida dessa baixa taxa de rolagem é a queda no endividamento externo, que são divulgados com uma defasagem um pouco maior. Ontem, o BC divulgou a dívida externa bruta em janeiro, de US$ 199,797 bilhões, que representa uma queda de US$ 1,577 bilhão em relação aos dados de dezembro. Parte dos dólares que entram no país pelo saldo em conta corrente e pelos investimentos estrangeiros diretos estão servindo para bancar as inversões de brasileiros no exterior. Os investimentos diretos brasileiros foram particularmente notáveis em março, com a cifra de US$ 764 milhões. No primeiro trimestre, essas inversões somam US$ US$ 928 milhões, alta de 179% em relação ao igual período de 2004.