Título: Lula diz que juro alto não inibe expansão
Autor: Henrique Gomes Batista, Francisco Góes e Catherine
Fonte: Valor Econômico, 27/04/2005, Finanças, p. C2

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva defendeu ontem a taxa de juros no Brasil. "A verdade nua e crua é que a quantidade de dinheiro que está sendo jogada no mercado não estava prevista nos manuais da ordem econômica deste país. E é por isso que mesmo com a taxa Selic a 19,25% (a taxa está efetivamente em 19,50%), o mercado interno continua a crescer, é por isso que o varejo está crescendo, é por isso que os supermercados estão vendendo muito, porque as pessoas estão tendo possibilidade de acesso a dinheiro que antes não tinham", disse, dirigindo seu discurso a empresários e ao presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Paulo Skaf. Durante o lançamento do programa Melhores Cafés do Brasil, promovido pela Associação Brasileira da Indústria do Café (Abic), Lula se referia aos programas implantados em seu governo - crédito consignado em folha de pagamento e o Programa Nacional de Microcrédito Produtivo Orientado - como um aumento de liquidez na economia e contraponto aos seguidos aumentos da taxa básica de juros no país. "De vez em quando, está aqui o meu querido Paulo Skaf, presidente da Fiesp, eu vejo as pessoas falarem e dizerem que o aumento da taxa Selic vai diminuir o consumo interno e eu fico analisando os economistas falando, os especialistas falando, e eu fico pensando que as pessoas não estão percebendo uma coisa que está acontecendo e que não estava escrito em nenhum manual: que nós estamos colocando no mercado uma quantidade de dinheiro que não estava previsto em nenhum manual da economia." Lula afirmou que só do crédito consignado foram colocados R$ 13,5 bilhões no mercado. "Isso significa 40% do consumo no nosso país e agora entraram os aposentados (ao programa de crédito consignado), que vão ter acesso a dinheiro a 1,5% no Banco do Brasil. Eu não tenho dúvida que no final do ano serão mais alguns bilhões de reais que estarão no mercado", disse. "Um dia eu quero sentar com o Paulo Skaf e com outros empresários para a gente discutir o quanto entrou no mercado brasileiro esses dias, esses anos, esses dois anos para o consumo." O vice-presidente da República e ministro da Defesa, José Alencar, defendeu que seja feita campanha para orientar os tomadores de crédito sobre os altos juros. Alencar não disse quem deve promover a campanha. "A sociedade tem que reagir e fazer com que a demanda (por crédito) caía, o que elevará a oferta e, por conseqüência, reduzirá as taxas cobradas", disse. Ele negou que a proposta tenha caráter de boicote. Para Alencar, as pessoas vão ao banco tomar empréstimo por "absoluta premência", mas, segundo ele, o cidadão tem de estar prevenido. "Não se pode pagar essas taxas porque elas são um assalto", afirmou. O vice-presidente fez as declarações em apoio ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva que, na segunda-feira, criticou a classe média por não tentar obter juros menores. "Ele (Lula) se referiu às taxas cobradas no sistema bancário e recomendou que as pessoas façam trabalho no sentido de reduzir essas taxas. Para Alencar, se todos aceitam e ainda demandam recursos com juros no atual patamar as taxas tendem a permanecer elevadas. O regime de juros no Brasil é nocivo ao desenvolvimento. Não há atividade produtiva capaz de remunerar as taxas vigentes no mercado brasileiro." O presidente do BNDES, Guido Mantega, criticou pesquisa feita pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) que prevê spread bancário de 20% para 2010. "Esse spread é muito elevado, acho realmente um absurdo, porque a economia brasileira já ganhou um grau de segurança que não possuía no passado", disse.