Título: Políticos criticam destempero verbal do presidente
Autor:
Fonte: Valor Econômico, 27/04/2005, Finanças, p. C3

Foi imediata a reação de congressistas ontem ao discurso do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que culpou a comodidade dos brasileiros pelos altos juros cobrados pelos bancos no país. Diversos senadores e deputados criticaram duramente o destempero verbal do presidente. O líder do PSDB no Senado, Arthur Virgílio (AM), encaminhou um voto de censura contra o presidente, por uso de linguagem chula no uso de suas funções. Na segunda-feira, durante solenidade de sanção da lei que criou o programa nacional de microcrédito produtivo, Lula disse que o brasileiro "não levanta o traseiro" para buscar um banco que cobre juro mais baixo. Para Virgílio, o presidente "passou dos limites". Ele destacou que não há no Brasil bancos que ofereçam juros mais baratos. "Nem mesmo o Banco do Brasil, tão elogiado pelo presidente", lembrou. "Espero que o presidente sente o seu traseiro para trabalhar e pare de governar de pé, somente fazendo discursos." O líder do governo no Senado, Aloizio Mercadante (PT-SP), saiu em defesa do presidente. Na tribuna, o senador justificou os termos usados por Lula dizendo que ele "veio do povo". O líder do governo afirmou que não há como a oposição criticar os juros praticados hoje no Brasil, se os juros praticados no governo Fernando Henrique Cardoso foram os mais altos que o país já viveu. "A taxa Selic chegou a 45% no governo FHC." Os presidentes do PPS e do PDT divulgaram nota pública: "Se muitos podem ver as declarações do presidente pelo prisma da ironia, condescendente, nós as entendemos como uma manifestação de escárnio ao povo brasileiro, pressionado cada vez mais pelos juros escorchantes." O vice-presidente da Câmara, José Thomaz Nonô (PFL-AL), discursou atacando o presidente: "O Lula é uma máquina de dizer bobagens, um manancial de lugares comuns, uma fonte inesgotável de metáforas de quarta categoria. Esse negócio de levantar o traseiro é um insulto ao cidadão que morre no cheque especial", disse, citando as altas taxas cobradas pela Caixa Econômica Federal e Banco do Brasil. Ele encerrou ironizando: "Protejam seu traseiro porque é a única parte que o governo ainda não invadiu."