Título: Vantagens sobre a renda fixa podem ser atrativo adicional
Autor: Adriana Aguilar
Fonte: Valor Econômico, 27/04/2005, PREVIDÊNCIA PRIVADA, p. F1;2;3;4;5

Quer mandar o filho estudar no exterior em 2015? Ou comprar um imóvel em 2020? Então, vale a pena pensar num fundo previdenciário como opção para guardar dinheiro e fazê-lo crescer. Com a possibilidade de escolha entre a antiga tabela de Imposto de Renda (progressiva) e a nova (regressiva), abriram-se novos cenários nos quais fundos de previdência ganham dos investimentos tradicionais, como renda fixa. De acordo com a recém-criada tabela regressiva de IR, os rendimentos dos investimentos previdenciários com mais de oito anos serão tributados apenas no momento do saque, e com alíquota abaixo de 15%. Essa é justamente a alíquota que incide semestralmente sobre os rendimentos dos fundos tradicionais. Nas simulações feitas por especialistas a pedido do Valor, entre investimentos conservadores, a combinação PGBL-tabela regressiva mostrou-se, no mínimo, competitiva. No longo prazo, tornou-se quase imbatível. "Há casos em que a previdência leva vantagem. No momento de confrontar as opções, o investidor deve ter uma avaliação específica de seu caso e lembrar de algumas regras fundamentais", explica a consultora Márcia Dessen, da BankRisk. Essas regras, ressaltadas por todos os especialistas em finanças pessoais, são as seguintes: - Quem quer acumular dinheiro mas não tem certeza sobre qual será seu uso, ou fará investimentos e saques de maneira irregular, ou acha que usará o dinheiro em prazo inferior a cinco anos, provavelmente terá melhores resultados em fundos convencionais. O governo quer incentivar a poupança de longo prazo - por isso, os fundos de previdência tornaram-se ainda menos atraentes como investimentos flexíveis; - Quem quer construir patrimônio para a aposentadoria deve pensar na regularidade das aplicações, não só na rentabilidade. "A maioria das pessoas não tem disciplina suficiente para investir todo mês. O fundo de previdência é bom porque cria a obrigação de poupar", diz o economista Louis Frankenberg, vice-presidente de Finanças Pessoais da Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac); - Recomenda-se a diversificação de investimentos e de instituições financeiras, também no momento de planejar a aposentadoria; - Fundos como os FIF e os DI têm desempenho relativamente melhor em cenários de piora da economia, no qual as taxas de juros permaneçam elevadas por muito tempo. Mas a tendência de longo prazo é que os juros caiam e, com eles, diminua também o rendimento desses fundos; - As simulações supõem que os investimentos confrontados têm os mesmos custos, mas fundos de previdência tendem a ser mais caros. Além da taxa de administração, eles têm taxas de carregamento e de saída. Entendidas as regras, o investidor pode conferir o que tem a ganhar com as alternativas no mercado. Quem está no sistema VGBL e prefere continuar na tabela progressiva (por exemplo, porque prevê receber benefícios abaixo de R$ 2000 ou porque tem muitas deduções a fazer no IR) deve encarar o investimento estritamente como aposentadoria, ou seja, com o fim específico de fazer saques regulares a partir de certa idade. Para entender por quê, imaginemos um cenário entre realista e otimista, com taxa de juros nominal média de 10% ao longo do período (a taxa básica atual é de 19,5%). Nesse cenário, imaginemos também que o investidor faz aportes mensais, sempre no mesmo valor, em seu fundo de previdência. Se ele resolver sacar todo o capital ou grande parte dele de uma vez, por necessidade, perderá dinheiro. Nesse caso, um fundo convencional, como os DI, teria oferecido melhores resultados. O investimento VGBL-tabela progressiva só começaria a oferecer rentabilidade maior num prazo bem longo, acima de 25 anos. É o clássico exemplo no qual a grande atratividade do fundo de previdência não é ganho, mas segurança. Se o mesmo investidor, no sistema VGBL, optar pela tabela regressiva (prevê receber benefícios acima de R$ 3.000 ou está a mais de 15 anos da aposentadoria), a situação muda bastante. Pelos cálculos da BankRisk, com taxa de juros nominal média de 14%, o fundo previdenciário começaria a exibir vantagem sobre o convencional após 10 anos - um prazo relativamente curto. A combinação VGBL-tabela regressiva seria uma boa escolha para quem cogita usar o dinheiro guardado para outros fins, como comprar um imóvel, mas tem certeza que deixará o capital rendendo por pelo menos oito anos. Num cenário mais otimista, com queda mais rápida das taxas de juros, o VGBL tende a ganhar vantagem ainda mais cedo. Para quem está no PGBL, todas as simulações partem de uma premissa: o investidor tem de aplicar o diferimento de IR. "O PGBL permite que o pagamento do IR seja adiado para o momento de recebimento do benefício. Quem gastar o dinheiro vai ter prejuízo no futuro", avisa Márcia.