Título: Pesquisa mostra que uso de software livre cresce, mas ainda é baixo no país
Autor: Cristiano Romero
Fonte: Valor Econômico, 28/04/2005, Brasil, p. A2

Em meio à ofensiva do governo federal para fazer com que as repartições públicas adotem softwares livres (de código aberto), pesquisa encomendada pelo Ministério da Ciência e Tecnologia mostra que o uso desse tipo de software no Brasil tem se disseminado, mas ainda é modesto. Dos 18,7 milhões de computadores existentes no país, apenas 3% operam com o Linux, o mais conhecido dos softwares livres. No caso dos servidores, o programa está presente em 15% das máquinas. Realizada pela Associação para Promoção da Excelência do Software Brasileiro (Softex) e o Departamento de Política Científica e Tecnológica da Unicamp, a pesquisa, a maior já feita por um país sobre esse tema, revela que o uso do software livre é crescente no Brasil, principalmente, nos setores de automação comercial, comércio eletrônico, educação à distância, administração escolar e administração de serviços. Os pesquisadores estimam que o mercado do Linux, por exemplo, está em torno de R$ 77 milhões, mas poderá triplicar até 2008, alcançando R$ 231 milhões. "Há perspectivas de crescimento acelerado nos próximos anos, principalmente na prestação de serviços, hoje liderada pelo sistema Linux, que respondeu, em 2003, por 9% do mercado mundial de sistemas operacionais. A estimativa é que em 2007 seja responsável por 18%", diz a pesquisa. "A maioria das empresas usuárias identificadas pela pesquisa é de porte médio ou grande - 64% têm faturamento superior a R$ 1 milhão por ano e 65% mais de 99 funcionários." A pesquisa chama a atenção para a economia que os software livres podem trazer a seus usuários. Este tem sido um dos motes da campanha liderada pelo Instituto Nacional da Tecnologia da Informação (ITI) em defesa da adoção de softwares de código aberto no setor público. "Supondo custos operacionais semelhantes entre (software) proprietário e não proprietário, o não-pagamento de licenças pode significar uma economia de cerca de R$ 800 por 'desktop' e de cerca de R$ 2 mil em média por servidor, o que levaria a uma economia de cerca de R$ 85 milhões/ano. Se se considera que alguns pacotes de Linux hoje vendidos trazem ainda o MS-Office (aplicativos de escritório fabricados pela Microsoft) e mais um conjunto de outros softwares, este valor tende a se multiplicar por cerca de 10 vezes", diz a pesquisa, advertindo que o ritmo de substituição de aplicativos como o Office é lento. Depois de fazer 3.657 enquetes, além de entrevistar 364 empresas desenvolvedoras de softwares e 154 companhias usuárias, a pesquisa constatou que a redução de custos é a principal motivação, entre os usuários (66,1% do total), para a migração dos softwares proprietários para os livres. No caso dos desenvolvedores de programas, as duas principais razões citadas foram o desenvolvimento de novas habilidades e o compartilhamento de conhecimento. As motivações ideológicas foram apontadas, pelos entrevistados, como de menor importância para a opção pelo software livre. "Os principais resultados indicam que, apesar de não se tratar de uma ruptura tecnológica, o modelo SL/CA (software livre/código aberto) introduz novas formas de desenvolver e de licenciar software que têm desafiado os modelos tradicionais de propriedade intelectual e aprendizagem tecnológica", diz a pesquisa. Grandes empresas têm migrado mais rapidamente para o uso de programas de código aberto no Brasil do que o setor público. O estudo conta os casos bem-sucedidos de pesos pesados como Carrefour, Pão de Açúcar, Wall-Mart, Grupo Sonae, Telemar, Itaú, Petrobras e GVT. A pesquisa derruba um dos mitos do software livre no Brasil: o de que os programas são desenvolvidos por "micreiros". Na verdade, o perfil encontrado pelos pesquisadores é muito semelhante ao dos desenvolvedores europeus. Trata-se de pessoal profissionalizado, motivado "por questões de capacitação (aprendizado) e empregabilidade (efeito vitrine) e alguns exclusivamente por questões ideológicas. Segundo o professor Sérgio Salles, da Unicamp, 53% dos desenvolvedores brasileiros estão em empresas privadas, 13% em órgãos públicos e 10%, nas universidades. O uso do software livre no Brasil ainda é excessivamente concentrado. A pesquisa mostra que dois Estados - São Paulo e Rio Grande do Sul - detêm 59% das empresas usuárias desses softwares. Setenta e oito por cento dos desenvolvedores individuais, 81% das empresas desenvolvedoras, 84% dos usuários individuais e 85% das empresas usuárias encontram-se nas regiões Sul e Sudeste. As comunidades de usuários também estão concentradas - 58% dos usuários estão no Sudeste e 26% no Sul.