Título: Ocupação cai pelo segundo trimestre
Autor: Francisco Góes
Fonte: Valor Econômico, 28/04/2005, Brasil, p. A4

A indústria continuou a crescer em abril, mas os sinais de desaceleração no ritmo de crescimento são evidentes, segundo aponta a Sondagem Conjuntural da Indústria de Transformação da Fundação Getúlio Vargas (FGV). A pesquisa indica que cresceu de 15%, em janeiro, para 20%, em abril, o percentual de empresas que apontaram a insuficiência de demanda como principal obstáculo à expansão da produção. A situação dos negócios nos próximos seis meses tornou-se, paralelamente, a menos otimista desde julho de 2003. A sondagem de abril, que inclui 990 empresas com faturamento anual em 2003 de R$ 374,2 bilhões, engloba pela primeira vez dados sobre utilização da capacidade instalada com ajuste sazonal. Por esse critério, em abril o nível de utilização da indústria atingiu 84,4%, inferior a janeiro (84,6%) e a outubro de 2004 (85,1%), o maior índice de ocupação desde abril de 1995. Campelo acrescentou que os setores de bens de capital, bens intermediários e material de construção seguiram a tendência da indústria, confirmando as suspeitas de desaceleração do crescimento. O levantamento da FGV mostrou que 46% dos entrevistados esperam um ambiente melhor para os negócios no período abril-setembro, enquanto 11% vislumbram um cenário pior. Em janeiro, esses percentuais eram de 60% e 4%, respectivamente. O quadro de arrefecimento da expansão da economia tem sido induzido pelo aperto na política monetária do Banco Central. Mas o fenômeno pode fazer parte da dinâmica do ciclo de crescimento da indústria, como ocorreu em 2003, quando ela cresceu muito e depois passou por alguns meses de acomodação. "A sondagem mostra que o período de acomodação da indústria, verificado pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) entre dezembro e fevereiro, emendou com uma nova fase de crescimento em ritmo mais moderado", disse Aloísio Campelo, economista da FGV responsável pela pesquisa. Para Campelo, não há uma inversão de tendência do crescimento, mas é certo que a taxa de expansão será menor no resto do ano. Campelo disse que dos oito principais quesitos da pesquisa seis eram mais favoráveis em janeiro deste ano comparativamente ao mesmo mês de 2004 e só dois eram piores. Em abril, a relação se inverteu: só dois dos oito quesitos são melhores do que o mesmo mês do ano passado e seis são piores. "Os empresários estão dizendo que a economia brasileira continua sendo uma economia (de crescimento) medíocre", acrescentou Samuel Pessôa, economista e professor da FGV. Ele acrescentou: "Vamos para o desastre? Não. Vamos crescer talvez até mais do que os 2,2% (da média anual dos anos 90), mas os empresários estão descobrindo que este governo não foi capaz de criar as condições para elevar de forma sustentada a taxa de crescimento da economia." Para Pessôa, a redução do otimismo do empresariado detectado na sondagem vincula-se ao fato de que a indústria está batendo no limite de sua capacidade instalada e as margens de lucros podem estar reprimidas. A situação dos estoques também evidencia a desaceleração do crescimento industrial. Aumentou de 8% em janeiro para 10% em abril o número de empresas que consideram os estoques excessivos, enquanto o percentual de empresários que avaliam os estoques como "insuficientes" caiu de 3%, em janeiro, para 2%, em abril. Nas previsões para três meses (abril-junho), a pesquisa apontou que 58% das empresas pretendem aumentar a produção e 10%, reduzir. Para 56% dos entrevistados, haverá aumento da demanda no período abril-junho. Outros 11% prevêem diminuição da demanda. Em relação ao emprego, 29% pretendem aumentar o número de vagas e 9%, reduzir. Por outra parte, o percentual de empresas que pretendem aumentar os preços passou de 35% em janeiro para 43% em abril. Apenas 6% têm intenção de reduzir os preços, contra 11% em janeiro.