Título: Lula desautoriza apoio de Dirceu à governadora para apaziguar PMDB
Autor: Raymundo Costa
Fonte: Valor Econômico, 28/04/2005, Política, p. A8

Por intermédio do presidente do Senado, Renan Calheiros (AL), e do senador José Sarney (AP), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva desautorizou o apoio que o ministro José Dirceu (Casa Civil) deu à reeleição da governadora Wilma Maia (RN), o que desencadeou uma nova crise na bancada do PMDB. Segundo Lula disse aos senadores, houve apenas um "mal-entendido". A satisfação dada por Lula ao PMDB não desfez o clima de insatisfação na bancada em relação ao governo. Desde a eleição de Renan Calheiros para a presidência do Senado, a bancada estava composta, mas a situação mudou nas últimas semanas. Para enviar um recado ao Planalto, os pemedebistas recusaram inclusive uma indicação de Lula para a Agência Nacional de Petróleo. O apoio de José Dirceu à reeleição de Wilma Maia, que é do PSDB, ampliou as desconfianças do PMDB em relação à proposta de aliança que Lula fez ao partido para a eleição presidencial de 2006. Candidato ao governo do Rio Grande do Norte, o senador Garibaldi Alves, irritou-se com a declaração de apoio de Dirceu e pediu seu desligamento da função de vice-líder do governo. Em almoço da bancada patrocinado ontem pelo líder Ney Suassuna, os senadores pemedebistas prestaram solidariedade a Garibaldi Alves. Renan, Sarney e Suassuna planejavam ontem à noite reunir-se hoje para tratar da questão do relacionamento PMDB-Planalto. Na avaliação da cúpula peemedebista, o governo começa a repetir no Senado os erros que cometeu na Câmara e que levaram à paralisia dos trabalhos. O Senado, ao contrário, tem se mostrado bastante produtivo neste início de ano. Segundo levantamento do líder do governo, Aloizio Mercadante (PT-SP), só na semana passada foram aprovadas 71 propostas em tramitação. Eventual desajuste da bancada do PMDB, que dispõe de ampla maioria, pode comprometer esse desempenho. O almoço no gabinete de Ney Suassuna serviu para a bancada ouvir uma exposição do presidente da Eletrobrás, Silas Rondeau, sobre a empresa. Todos saíram bem impressionados com os números sobre a empresa, mas à saída reclamaram que as demandas do partido na área de Minas e Energia continuam sem ser atendidas. Enquanto isso não ocorrer, o governo não arrisca votar no plenário a indicação do engenheiro José Fantine para a ANP. A insatisfação no senado, aliás, não é exclusividade da bancada do PMDB. O PL, por exemplo, reagiu mal à investida do fisco contra empresa do deputado Sandro Mabel (GO), que é líder do partido na Câmara dos Deputados. O senador Mozarildo Cavalcanti (PTB-RR), que compõe com a base governista, reclama do decreto de demarcação da reserva Raposa do Sol, em Roraima. Ameaça romper com o governo federal. Na avaliação da cúpula peemedebista, falta coordenação política ao governo. As bancadas simplesmente são surpreendidas por decisões como o decreto da reserva Raposa do Sol ou declarações como a de José Dirceu, no Rio Grande do Norte, num momento em que o governo tenta costurar o apoio inclusive da ala oposicionista do PMDB ao projeto de reeleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.