Título: Condoleezza reafirma preocupação com Venezuela
Autor: Assis Moreira
Fonte: Valor Econômico, 28/04/2005, Especial, p. A22

Os Estados Unidos reconhecem o papel de liderança do Brasil e sua importância como líder mundial, e querem uma "parceria" com o país para promover a democracia no continente, afirmou a secretária de Estado dos Estados Unidos, Condoleezza Rice, em palestra para convidados da embaixada americana, em Brasília. "Nosso objetivo é usar a força de nossa parceria democrática", comentou Rice, convidando o Brasil a "apoiar todos os povos que queiram uma transformação democrática, qualquer que seja a parte do mundo envolvida". Ela não escondeu que considera a Venezuela governada por Hugo Chávez um dos países que preocupam os EUA, em matéria de liberdade democrática. "Temos certas preocupações com o hemisfério e com a Venezuela em particular", disse Rice. "É preciso saber o que vai acontecer com o processo, com as oportunidades democráticas na Venezuela: vai haver imprensa livre, oportunidade para mobilização da oposição, como será tratado o Congresso, o que acontecerá com os que criticam o governo?", perguntou. O assessor especial da Presidência Marco Aurélio Garcia, garantiu que Rice evitou se estender sobre a Venezuela, no encontro que tivera na véspera, com membros do governo e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. "Ela disse: tendo em vista a importância das relações bilaterais Brasil-Estados Unidos, nem vamos introduzir esse tema, que é lateral", relatou Garcia, que defendeu Chávez contra acusações de anti-democrata. "Quem esteve lá sabe que a imprensa é livre", comentou o assessor de Lula, lembrando que a jornalista processada com base na nova lei de imprensa editada por Chávez é autora de uma matéria com acusações comprovadamente falsas contra o presidente. "Se me caluniarem, também vou abrir processo na Justiça, faz parte do sistema democrático", disse. Garcia teve de explicar a missão, de menos de um dia, do ministro-chefe da Casa Civil, José Dirceu, que visitou Hugo Chávez no dia da chegada de Rice ao Brasil, e voltou ao país horas depois. Ele negou informações de que Dirceu havia tentado demover Chávez de cancelar o acordo de cooperação militar entre os EUA e a Venezuela. Como coordenador político do governo, Dirceu foi à Venezuela discutir entraves políticos a alguns dos 26 acordos firmados entre aquele país e o Brasil, afirmou Garcia. "Foi discutir política, também", reconheceu, admitindo que as relações com Estados Unidos podem ter feito parte da pauta da visita. Garcia disse que o papel "moderador" do Brasil no continente também é realizado por outros países, como o Chile, Argentina e Uruguai, e lembrou que uma missão da Comunidade Sul-Americana de Nações (Casa), com participação brasileira, irá ao Equador para discutir o futuro do país após a derrubada do presidente Lucio Gutiérrez. O ministro de Relações Exteriores, Celso Amorim, parte amanhã para Quito. Para Garcia, o principal resultado da visita de Rice ao Brasil foi o reforço à boa relação entre os dois países. "Constatou-se que nunca as relações estiveram tão boas, seja do ponto de vista do intercâmbio bilateral, que está prosperando a despeito do que muitas vezes se publica; seja do ponto de vista político", disse. Além de conversarem sobre a provável visita do presidente George Bush ao Brasil, em novembro, Lula, seus ministros e Rice discutiram a instabilidade nos países do continente. Durante o encontro com Lula e Amorim, Condoleezza falou do interesse dos EUA em retomar com mais ímpeto as negociações para a Área de Livre Comércio das Américas (Alca). Foi lembrada, pelo ministro, que o Brasil se dispõe a avançar nas negociações, se for respeitado o acordo firmado na conferência ministerial de Miami, que criou um conjunto mínimo de regras e obrigações para a futura Alca. "Precisamos progredir em direção à Alca, que vai produzir uma força irrefreável de prosperidade", discursou a secretária americana, que elogiou os esforços conjuntos do Brasil e Estados Unidos na área comercial e defendeu parceria de ambos na Organização Mundial do Comércio. No discurso que fez defendendo as vantagens das reformas democráticas, com críticas veladas a Cuba e à Venezuela, Rice foi pródiga em referências elogiosas ao Brasil, mostrando por que as autoridades brasileiras consideraram "muito positiva" a visita da assessora de Bush (Amorim, a assessores, chegou a afirmar que foi muito mais produtiva que a do antecessor, Colin Powell, no ano passado). Rice classificou o Brasil como "líder regional e parceiro mundial", disse ver com muitos bons olhos a democracia no país, elogiou o exemplo de sucesso de Lula e a "liderança" no Haiti, falou do pioneirismo mundial brasileiro em energia alternativa e disse ter "plena confiança" no engajamento do governo brasileiro contra o terrorismo e narcotráfico, na Tríplice Fronteira (com Paraguai e Argentina) e contra as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc), em ajuda ao presidente Álvaro Uribe.