Título: Amorim e Portman tentam desbloquear Alca
Autor: Assis Moreira
Fonte: Valor Econômico, 28/04/2005, Especial, p. A22

O ministro das Relações Exteriores do Brasil, Celso Amorim, se reunirá em breve com o novo representante comercial dos Estados Unidos, Robert Portman, para tentar destravar as negociações da Área de Livre Comércio das Américas (Alca). O encontro está marcado para segunda-feira próxima, em Paris, e ocorrerá em paralelo com a reunião da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). O Brasil aguarda apenas a confirmação de Portman pelo Congresso americano para bater o martelo sobre a reunião, informam fontes do governo federal. Um senador democrata barrou o nome de Portman, que foi indicado pelo presidente George Bush para dirigir o US Trade Representative (USTR, espécie de ministério do Comércio Exterior dos EUA), e exigiu restrições às importações chinesas. A expectativa é que a situação seja resolvida dentro de poucos dias. As negociações da Alca estão paralisadas desde a reunião realizada em Puebla, no México, em fevereiro de 2004. Depois do impasse, foram realizadas duas reuniões entre os co-presidentes da Alca, o brasileiro Adhemar Bahadian e o americano Peter Allgeier, mas não houve avanço. Durante palestra para empresários do setor eletroeletrônico em São Paulo, o chefe da divisão de Alca do Itamaraty, Tovar da Silva Nunes, disse que uma reunião ministerial entre Brasil e Estados Unidos é necessária para estabelecer as diretrizes políticas da negociação. Caso isso não ocorra, o encontro já confirmado para o dia 12 de maio entre Allgeier e Bahadian tem poucas chances de conseguir avanços, já que os impasses são os mesmos. O Brasil resiste em se comprometer com regras rígidas de propriedade intelectual. Os EUA se recusam a discutir subsídios e antidumping na Alca e ameaçam oferecer cotas para produtos agrícolas. "Hoje é quase impossível antecipar o que vai ocorrer na Alca. Depois uma reunião ministerial, poderemos vislumbrar alguma perspectiva", afirmou Nunes. Ele lembra que o prazo inicial para a conclusão das negociações da Alca já foi perdido. A previsão era 1º de janeiro deste ano. Enquanto a Alca não avança, o Brasil está negociando acordos de livre comércio com quase todos os países do hemisfério. No dia 17 de maio, diplomatas de Brasil e Canadá se reunirão em Assunção, Paraguai, para iniciar efetivamente as negociações entre os dois países. Nunes reconhece que o Brasil só não está negociando bilateralmente com os Estados Unidos, mas atribui a imobilidade aos americanos. "Nós queremos maior acesso ao mercado americano", reforça. Na semana passada, declarações do presidente Luiz Inácio Lula da Silva de que "o Brasil tirou a Alca da pauta" provocaram polêmica e reações negativas entre empresários. Diversos setores reclamam que o país privilegia os países do hemisfério Sul em detrimento dos EUA. Mas esse não é o caso dos fabricantes de eletroeletrônicos. Para o diretor de relações internacionais da Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica (Abinee), Humberto Barbato, o mercado americano é o mais competitivo do mundo e o Brasil precisa buscar outras alternativas e negociar com África e países árabes. "Não é só os EUA que vão resolver o nosso problema", diz. O setor eletroeletrônico é considerado um dos mais protecionistas na negociação comercial.