Título: Brasil admite ampliar proposta de abertura em serviços na OMC
Autor: Assis Moreira
Fonte: Valor Econômico, 28/04/2005, Especial, p. A22

O Brasil estuda a possibilidade de oferecer abertura em serviços financeiros, telecomunicações e transportes no mês que vem na Organização Mundial do Comércio (OMC), desde que países industrializados desbloqueiem a negociação agrícola rapidamente. A sinalização foi dada pelo diretor do Departamento Econômico do Itamaraty, embaixador Piragibe Tarrago, às vésperas do encontro dos 148 países para fazer um balanço da Rodada Doha. O diretor-geral da OMC, Supachai Panitchpakdi, será, hoje, o primeiro a advertir para os riscos de novo fiasco em julho, se até lá os países não conseguirem superar os impasses nas negociações agrícola, industrial e de serviços. Em serviços, existe prazo até o mês que vem para os países apresentarem ofertas melhoradas de abertura de seus mercados. A expectativa é grande, especialmente sobre o que emergentes, como o Brasil, vão colocar na mesa de negociações. Na oferta inicial, há mais de um ano, Brasília ofereceu a abertura do mercado brasileiro à concorrência de fornecedores estrangeiros de apenas sete setores sem importância econômica, como serviços fotográficos, de limpeza e organização de congressos. Agora, o país acena com concessões nos setores de maior interesse dos EUA, União Européia, Japão e outros países industrializados: serviços financeiros, telecomunicações e transportes. A Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), que reúne os países ricos, estima que os ganhos com o desmantelamento de barreiras nessas áreas excedem de longe os ganhos da liberalização agrícola e industrial. E podem aumentar em até 7% o Produto Interno Bruto (PIB) dos países em desenvolvimento. Em 2004, o Brasil registrou déficit de US$ 5 bilhões na balança do comércio de serviços, resultado de US$ 11 bilhões de exportações e US$ 16 bilhões de importações. Os Estados Unidos e a UE obtiveram superávits por volta de US$ 60 bilhões cada um. O problema na OMC é que a União Européia, Suíça, Japão e outros países industrializados cobram abertura dos setores industrial e de serviços nos emergentes, mas continuam causando "dificuldades indevidas" na negociação agrícola, na expressão de Piragibe. O diplomata apresentará hoje no Comitê de Negociações Comerciais a preocupação do Brasil com o bloqueio que a UE e o G-10 estão impondo. "As conseqüências são sérias para a continuidade da rodada, porque se a agricultura não avançar, nada avança", advertiu. Na segunda e terça-feiras próximas, haverá reunião de ministros do G-5 agrícola - EUA, UE, Brasil, Austrália e Índia - em Paris, para tentarem superar a questão de conversão de tarifas. Essa conversão é importante para mostrar o grau de proteção de cada produto em parceiros como a UE. Na quarta-feira, também na capital francesa, haverá reunião de cerca de 25 ministros de Comércio, dessa vez para discutir também como avançar nas negociações industrial e de serviços. Piragibe voltou a defender a proposta do Brasil, Índia e Argentina de fórmula para redução de tarifas industriais. Disse que o Brasil continuará lutando para modular liberalização com possibilidade de continuar a capacidade de industrialização dos países em desenvolvimento. Já o objetivo de outros países é só liberalização, disse.