Título: Paraguai critica taxa de juros cobrada pelo Brasil
Autor: Marli Lima
Fonte: Valor Econômico, 28/04/2005, Empresas &, p. B1

O ministro da Industria e Comércio do Paraguai, Ernst Bergen, qualificou ontem de "verdadeiro roubo" a taxa de juros que é cobrada da Itaipu Binacional pelo Tesouro brasileiro na rolagem da divida da companhia. Segundo o ministro, os juros cairiam pela metade se a empresa controlada pelo Brasil e pelo Paraguai renegociasse sua divida junto aos bancos internacionais. "Mas é o Tesouro que ganha e a tentativa de renegociação não avança." Bergen abordou a questão da divida quando foi indagado se o Brasil praticava a "generosidade" prometida pelo governo Lula aos países menores da América Latina, na busca de liderança regional. Segundo o ministro, o endividamento de US$ 16 bilhões de Itaipu junto ao Tesouro significa que o Paraguai deve US$ 8 bilhões, como sócio. O problema, segundo explicou, é que a dívida, antes em cruzado, foi transformada em dólar e indexada a inflação americana. O resultado, segundo outras fontes paraguaias, é que o Paraguai paga juros de 12% em dólar por causa da cláusula de reajuste da dívida baseada na inflação americana. Já o lado brasileiro teria menos dificuldade, porque paga diretamente ao seu Tesouro. O ministro concluiu que a renegociação defendida por Assunção seria uma boa oportunidade para o Brasil praticar assim a "generosidade" acenada a países menores. A declaração foi feita ontem em entrevista depois do primeiro dia de exame da política comercial do Paraguai pelos outros 147 países membros da Organização Mundial do Comércio (OMC). Na entrevista, a vice-ministra de Comércio, Myriam Segovia, reclamou que o setor empresarial paraguaio não se sente "cômodo" com o Mercosul, na ausência de um verdadeiro mercado comum, principalmente com o Brasil. Ela disse que o Brasil é "inacessível" para produtos com valor agregado do Paraguai. O rol de queixas paraguaias em relação ao Brasil é idêntico ao que Brasília apresenta contra os países industrializados. Os paraguaios reclamam que o Brasil tem um sistema de barreiras não tarifárias, que facilitam a entrada de matéria-prima, mas não de produtos com valor agregado.