Título: Dólar abaixo de R$ 3 leva Itaipu a cortar custos
Autor: Marli Lima
Fonte: Valor Econômico, 28/04/2005, Empresas &, p. B1

Itaipu Binacional pôs em prática um plano que prevê o corte de 15% nos gastos previstos para custeio e investimentos, que resultará em economia de cerca de R$ 12 milhões em 2005. Também faz os acertos finais de um programa de demissão incentivada que tem como alvo cerca de 400 funcionários do total de 1,5 mil contratados no Brasil - no lado paraguaio há 1,7 mil. O programa será implantado em julho. Em dois anos. deve gerar economia de US$ 29 milhões/ano. O corte de pessoal está sendo planejado há um ano e o de despesas começou a ser discutido há um mês. Foi motivado pela desvalorização do dólar frente ao real. O orçamento de Itaipu é feito em dólar e as previsões para 2005 foram fechadas em outubro com base em uma cotação de R$ 3. Como tem ficado bem abaixo disso, Itaipu tinha duas opções: cortar gastos ou pedir autorização ao governo federal para elevar a tarifa de repasse às distribuidoras, que em janeiro foi reajustada em 7,62% e passou para US$ 19,20 o kilowatt/hora. A empresa decidiu começar pela primeira opção, mas a segunda não está descartada e será usada caso a valorização da moeda brasileira tenha continuidade. Alguns cortes já estão definidos e outros serão acertados na próxima semana. Investimentos em renovação de frota de veículos e reforma das unidades administrativas estão suspensos. Os funcionários foram orientados a viajar menos a trabalho e buscar tarifas promocionais e até patrocínios a eventos estão vetados. "Estamos cortando tudo o que é possível para não aumentar a tarifa e causar inflação", disse o diretor-geral brasileiro da hidrelétrica binacional, Jorge Samek. "Vivemos em lua-de mel com o sistema energético brasileiro e nunca as distribuidoras ficaram tão felizes com Itaipu." Boa parte das despesas da empresa está atrelada ao dólar, como pagamento de dívida (US$ 19 bilhões, que terão de ser quitados até 2023) e royalties (serão US$ 311 milhões em 2005), que devem consumir quase 90% dos US$ 2,4 bilhões de receitas previstas para o ano. Dos US$ 254 milhões que restaram para as despesas de exploração da usina (custeio, pessoal e investimentos), metade ficou com o lado brasileiro e a outra metade com o lado paraguaio. No lado de cá, US$ 95 milhões serão usados para pagar pessoal, e é sobre os US$ 32 milhões destinados a custeio que será feito o corte de 15%. Segundo explicou a diretora financeira Gleisi Hoffmann, as projeções indicavam que o dólar em 2005 ficaria em cerca de R$ 3,20. A equipe foi conservadora e optou por trabalhar com R$ 3. "Não esperávamos que caísse tanto e agora temos de ajustar o orçamento", afirmou. Segundo a executiva, historicamente a cotação média do dólar sempre ficou acima da prevista no orçamento de Itaipu, o que gerou ganho orçamentário. As coisas mudaram nos últimos dois anos. Em 2004, o dólar previsto foi de R$ 3,30 - o valor médio ficou em R$ 2,89, o que gerou perda orçamentária de 12%. Em 2005 a perda já chega a 13%. "Não temos mais colchão tarifário, estamos no cimento", disse Samek, que acredita que a cotação do dólar tenha "batido no fundo do poço". Para mostrar o peso da moeda americana nas contas, Itaipu compara quanto valia sua energia em real e quanto vale agora. Em janeiro de 2003, a tarifa de repasse de Itaipu era de US$ 17,5553 o kilowatt, equivalente na época a R$ 62. Na terça-feira, os US$ 19,2071 praticados em 2005 valiam R$ 49. Sobre a redução do número de funcionários, Gleisi disse que os incentivos estão em estudo e poderá aderir ao plano quem tiver garantido pelo menos 80% do salário no fundo de previdência da empresa, o Fibra. Em 1999, a hidrelétrica tinha 3 mil funcionários no lado brasileiro: cortou pela metade. Como Itaipu está prestes a aumentar a capacidade de geração de energia de 12.600 MW para 14 mil MW, com a inauguração das duas últimas turbinas até o fim do ano, a diretora disse que as dispensas serão feitas com cuidado, levando em conta as necessidades da empresa. "Tínhamos como cortar gastos e estamos fazendo isso", afirmou Gleisi, que em 2004 implantou um pregão eletrônico binacional e economizou R$ 2 milhões em compras de materiais. Outra idéia em análise é a de cobrança de taxa aos turistas que visitam a usina. No ano passado, 718 mil pessoas visitaram a hidrelétrica, em Foz do Iguaçu, na fronteira com o Paraguai. A visitação pública foi aberta em 1977 e a previsão é de que até dezembro cerca de 13 milhões de pessoas tenham circulado por lá. "Hoje Itaipu não cobra nada por isso e tem gastos com segurança e transporte interno", disse Gleisi. Sua previsão é de que a cobrança comece a partir do segundo semestre. O primeiro ensaio foi feito em 2003, quando foi inaugurada na usina uma iluminação que virou um espetáculo noturno que pode ser visto mediante o pagamento de R$ 6. Esse valor é destinado a ações sociais.