Título: Gerber desiste das papinhas para bebês
Autor: Daniela D'Ambrosio
Fonte: Valor Econômico, 28/04/2005, Empresas &, p. B3

Quando chegou ao Brasil, em 2000, a Gerber - líder mundial em alimento para bebês - tinha pesados desafios para enfrentar. Não bastasse a concorrência da líder absoluta de mercado Nestlé, a empresa enfrentou outros obstáculos: a resistência das mães brasileiras - avessas aos produtos industrializados - e dois anos mais tarde, a proibição de propagandas de papinhas, uma das principais armas da Gerber para ganhar mercado. Até a proibição, as multinacionais duelaram na mídia. Resultado: no segundo semestre do ano passado, a Gerber, empresa do grupo Novartis, desistiu do mercado brasileiro de papinhas. "Eram muitas adversidades juntas e a concorrência com a Nestlé, que sempre liderou sozinha o mercado dificultou bastante", diz fonte do mercado. Essa foi a segunda tentativa da Gerber de conquistar o mercado brasileiro de papinhas. A primeira aconteceu na década de 70, quando ela ainda não havia sido adquirida mundialmente pela Novartis. Nessa última vez, a Gerber chegou ao Brasil disposta a abocanhar 15% do mercado, totalmente dominado pela Nestlé. Mas, apesar da meta ambiciosa, a empresa teve cautela. As papinhas infantis eram importadas do México. Na época a companhia dizia que só faria investimentos em produção local quando a escala fosse maior.

"O mercado de papinhas no Brasil é muito pequeno e não se desenvolveu tanto quanto em outros países", afirma César Boulos, gerente de marketing de produtos infantis e para bebês da Novartis. "Fatores conjunturais não desenvolveram a categoria em grande escala e o câmbio também estava tornando a importação inviável". A categoria, no entanto, está crescendo e rendendo lucros à Nestlé, dona de mais de 90% desse mercado e que recentemente anunciou a construção de uma nova fábrica em Araçatuba, que produzirá 30 mil toneladas por ano de fórmulas infantis. Segundo dados ACNielsen, entre fevereiro de 2004 e fevereiro deste ano, o mercado de papinhas vendeu 22,7 milhões de unidades e faturou R$ 54,7 milhões. Entre fevereiro de 2003 e fevereiro de 2004, movimentou 22 milhões de unidades e registrou um faturamento de ou R$ 49,8 milhões. As mães brasileiras preferem as papinhas naturais, não só pelo orgulho de prepará-las, mas por acreditarem que o produto contenha conservantes, embora eles não constem da fórmula -as papinhas são embaladas à vácuo. A média de consumo de papinhas no Brasil é de 0,8 dúzias por nascimento. Nos Estados Unidos é de 28 dúzias, na Venezuela, 16,6, e no México, 7,2. Na área de nutrição infantil, a Gerber está concentrando sua atuação na área de nutrição infantil em farinhas e cereais, outro mercado cativo da Nestlé, mas que também conta com outros concorrentes, como a holandesa Royal Numico. "Trata-se de um mercado muito maior", diz Boulos. Segundo a ACNielsen, o mercado de cereais matinais, para crianças e adultos, movimentou R$ 289 milhões em 2004. A Gerber conta com três tipos de produtos nessa área: farinha láctea, mingau de arroz e arroz e banana. "Nosso objetivo é aumentar nossa penetração nas classes C e D", diz Boulos. No Nordeste, principal mercado desses produtos, a empresa lançou uma embalagem em saquinhos com custo cerca de 30% menor. Paralelamente, a Gerber centra suas forças na marca Lillo, que foi adquirida há seis anos pela Novartis e agora leva a assinatura Lillo by Gerber. A empresa é líder de mercado em chupetas e mamadeiras. Tem como concorrentes marcas importadas, como a Mam e a brasileira Cuca, proprietária das marcas Cuca Baby e Neopan. Além das chupetas e mamadeiras, a Gerber está ampliando toda a linha de puericultura, sobretudo acessórios, e no segundo semestre irá relançar todos os produtos. "Queremos dar um choque de modernidade à linha", diz Boulos. Nos últimos nove meses, a empresa lançou mais de vinte itens. Entre eles, estão protetor para seios e colher com ponta de silicone. Sem revelar números absolutos, Boulos diz que a divisão de produtos infantis teve um aumento de 30% em investimentos.