Título: Espera de ata branda derruba juro futuro
Autor: Luiz Sérgio Guimarães
Fonte: Valor Econômico, 28/04/2005, Finanças, p. C2

A expectativa de que a ata da reunião da semana passada do Copom do Banco Central, a ser publicada hoje cedo no site do BC, irá indicar claramente o fim do aperto monetário derrubou as projeções de CDI do mercado futuro de juros da BM&F. Os tesoureiros de bancos acreditam que o BC dirá na ata, após as ressalvas de praxe contra surpresas vindas de fora, que o ciclo de altas da Selic foi concluído com o avanço de 0,25 ponto percentual determinado no dia 20. Essa perspectiva forçou declínio acentuado da curva futura de juros. A queda foi generalizada no pregão de DI futuro, mas enquanto o contrato mais curto cedeu apenas 0,01 ponto, para 19,48%, o referente à virada do ano despencou 0,15 ponto, de 19,64% para 19,49%. Divulgado na véspera da publicação da ata, o IPCA-15 reitera a constatação quase geral de que o BC pode dar adeus ao cumprimento da meta de 5,1%, a menos que faça um choque brutal de juros. O IPCA-15 referente a abril dobrou em relação a março. Subiu 0,74%, ante alta de 0,35% no período precedente. Veio dentro das expectativas do mercado, já que as instituições previam índice entre 0,70% e 0,80%. Mas o IPCA-15, índice igual ao que baliza a meta de inflação do BC, só diferindo o período de coleta, mostra que há muita resistência da inflação em cair.

O economista-chefe do Banco Pátria, Luis Fernando Lopes, diz que o indicador sinaliza para o final do primeiro semestre do ano inflação anualizada de 7%. Trata-se de taxa menor que a variação acumulada pelo IPCA em 2004, de 7,6%. "A inflação está caindo, mas muito lentamente", diz Lopes. E só está caindo por causa dos efeitos benéficos trazidos pela apreciação cambial. Os núcleos mostram que a alta está generalizada, embora, todo mês, exista vilão específico mais agressivo. O índice aponta para inflação entre 6% e 6,5% no final do ano e de 5,5% em 2006. Como o BC não quer fazer o choque brutal, o CMN terá de rever, em sua reunião de junho, a meta de inflação para 2006, de 4,5%. E a de 2005? Só resta a ele torcer para que o teto de 7% não fure.

Interessado na 'ptax', dólar busca R$ 2,50

A opção de manter a Selic em 19,50% significa a transferência para a política monetária da mesma conduta de lavar as mãos adotada para o câmbio. O sinal dado na véspera de que não irá amparar a queda do dólar foi plenamente entendido ontem. A moeda caiu 0,78%, para R$ 2,5160, preço idêntico aos praticados nos dias 29 e 31 de maio de 2002. A derrocada de ontem teve ajuda dos "vendidos" em dólar no mercado futuro da BM&F. Já começaram a preparar o câmbio para que a "ptax", a taxa média oficial que irá liquidar os contratos, caia abaixo de R$ 2,50 na sexta-feira. O mercado está disposto, com a complacência imobilista do BC, a buscar a cotação do dia 21 de maio de 2002, R$ 2,4820. Só o mercado internacional poderá atrapalhar as manobras especulativas. Indícios, ainda escassos, de que o cenário pode alterar-se em favor da alta interna do dólar foram colhidos ontem. O mercado voltou a se preocupar com a possibilidade de esfriamento econômico nos EUA, o que desencadeia a aversão ao risco. Os encomendas de bens duráveis nos EUA caíram 2,8% em março, quando se esperava alta de 0,3%. . Foi a terceira queda consecutiva e a maior desde setembro de 2002. O dado, junto com a ampliação dos estoques de petróleo nos EUA, derrubou a cotação do barril em Nova York. Fechou a US$ 51,61, baixa de US$ 2,59. A aversão fez o risco-país subir ontem 0,68%, para 446 pontos-base.