Título: Mercadante volta a propor revisão da meta de inflação
Autor: Henrique Gomes Batista
Fonte: Valor Econômico, 28/04/2005, Finanças, p. C2

Ao criticar ontem a proposta do presidente da Câmara, Severino Cavalcanti, de retirar do Comitê de Política Monetária (Copom) a competência de "isoladamente conceber o aumento da taxa de juros", o líder do governo no Senado, Aloizio Mercadante (PT-SP), voltou a defender a revisão da meta da inflação para 2006 como instrumento para reduzir a constante elevação das taxas de juros. Para Mercadante, a meta deveria ser de 5,5% com intervalo de tolerância de 2,5 pontos percentuais. A meta fixada pelo Conselho Monetário Nacional (CMN) para 2006 é de 4,5% com 2 pontos de margem de tolerância. "A meta de 5,5% já é ambiciosa demais, só tivemos esse índice de inflação duas vezes na história. Abaixo disso, é irrealizável", disse. A reunião do CMN que vai tratar da meta para 2006 será realizada em junho. Para Mercadante, é a oportunidade para a revisão. Segundo o líder governista, o problema é que o Banco Central mira sempre no centro da meta. "Pode-se aumentar a meta, manter a inflação abaixo dos 7,6% do ano passado e ir deflacionando progressivamente", defende. Mercadante disse que sua posição não é nova. Ele fez essa mesma proposta ano passado - 5,5% de meta com intervalo de 2,5 pontos pelo prazo de três anos, até 2007. "Eu fiquei absolutamente sozinho, mas o tempo mostrou que eu estava com a razão", disse. Prova disso seria que as próprias autoridades monetárias fizeram um ajuste de 4,5% para 5,1% na meta para este ano. À época da reunião do CMN que definiu a meta, de acordo com Mercadante, já era visível que se estava submetido a um "choque de oferta". O petróleo subiu 65%, "em dólar", e o aço "160%, também em dólar", o que, segundo o líder do governo, "pressionou os custos da economia, foi a pressão externa dos preços", afirmou. A exemplo do que ocorreu em 2004, Mercadante quer novamente a revisão da meta de inflação e do intervalo de tolerância na reunião do CMN de junho. "É a grande oportunidade." O líder insinua que há outras pessoas que pensam como ele no governo, mas não diz quais. Seja como for, espera não ficar tão isolado quanto ficou no ano passado. O senador também chamou a atenção para outro aspecto relacionado ao aumento progressivo das taxas de juros: "É a taxa de juros que faz a apreciação do câmbio", afirmou. O líder do governo no Senado considerou razoável a proposta de Severino Cavalcanti que estabelece que o presidente do Banco Central deve dar explicações ao Congresso sobre o aumento de juros. Mas criticou a idéia de retirar do Copom a competência de "isoladamente conceber" o aumento da taxa. "O caminho não é esse voluntarismo, nem é prudente. Não tem nenhuma consistência técnica, empírica ou teórica", disse Mercadante. O líder petista considera mais interessante a mudança na composição do Conselho Monetário Nacional. Ele próprio tem um projeto em tramitação que inclui o ministro do Desenvolvimento, da Indústria e Comércio e dois representantes da sociedade civil, "de notório saber e reputação ilibada", no CMN. "É onde se faz o planejamento e a definição das metas de inflação", justificou.