Título: Vasp tenta negociar com o governo mais prazo para pagar Infraero
Autor: Daniel Rittner
Fonte: Valor Econômico, 11/10/2004, Brasil, p. A-2

O presidente da Vasp, Wagner Canhedo, vai jogar sua última cartada para evitar a cobrança diária e antecipada das taxas de pousos e decolagens recolhidas pela Infraero. Sete horas antes do prazo para que a companhia aérea honre suas dívidas recentes pelo não-pagamento de operações aeroportuárias, ele será recebido pelo ministro da Defesa, José Viegas, em Brasília. A reunião foi agendada para as 17h de quarta-feira e será a tentativa final de negociar um acordo. A Vasp pretende apresentar uma nova proposta de pagamento. Se não houver entendimentos até a meia-noite de quarta, a Infraero promete exigir o depósito à vista e diário das taxas, que são cobradas dos passageiros. Só nos últimos três meses, a empresa acumula dívidas de R$ 11 milhões com a estatal. Também deixou de cumprir o acordo que prevê o pagamento parcelado de um débito de R$ 774 milhões acumulado desde os anos 90. A reunião sinaliza que ainda existe disposição no Planalto para não precipitar a quebra da empresa. Fontes do governo avaliam que as pendências com a Justiça acabarão por decidir em breve a problemática situação da Vasp, a caminho da falência; e medidas oficiais que acelerem o fim das operações da companhia não seriam convenientes, no momento. Mesmo assim, a paciência é limitada. O presidente da Infraero, Carlos Wilson, ficou "profundamente irritado" com as propostas apresentadas por Canhedo, na semana passada, segundo um interlocutor do ex-senador. E o ministro da Casa Civil, José Dirceu, recusou-se seguidamente a receber o presidente da Vasp para conversar sobre a atual crise. Na quinta-feira passada, Viegas e Canhedo se reuniram em Brasília. O Ministério da Defesa anunciou a prorrogação por seis meses dos contratos que permitem à Vasp continuar operando os seus vôos. Na ocasião, eles discutiram também a dívida com a Infraero. Canhedo propôs o pagamento parcelado, em 12 meses, do débito de R$ 11 milhões e manutenção da cobrança das taxas aeroportuárias a cada 15 dias, como se faz atualmente. Um dos participantes da reunião afirmou que Viegas rejeitou com veemência a oferta. Canhedo então combinou com o ministro a apresentação de novas propostas na quarta. Apesar de não ter influência direta sobre a gestão da Infraero, Viegas é presidente do conselho de administração da estatal. Estima-se que, com o pagamento antecipado das operações de pousos e decolagens, a Vasp seria obrigada a desembolsar R$ 600 mil diários. Poucos acreditam na capacidade da empresa para cumprir tal exigência. Enquanto seus diretores driblam os oficiais de Justiça que tentam notificar a empresa sobre o pedido de falência, a Vasp procura conter o crescente desânimo dos funcionários. Balanço feito pelo Sindicato Nacional dos Aeronautas indica que 15 pilotos e comissários de bordo aderiram, só no primeiro dia, ao programa de demissões voluntárias oferecido pela companhia. A expectativa do sindicato é de atingir 200 adesões, que reverteriam as dispensas de igual número de aeronautas anunciadas na semana passada. Para quem aderir, a Vasp garante o pagamento de verbas indenizatórias e FGTS, além de seis meses de passagens para os funcionários e seus dependentes. Os demitidos fora do programa dificilmente receberão as indenizações previstas na legislação trabalhista, acredita o sindicato.