Título: Telecom Italia fecha acordo com Opportunity e deve assumir BrT
Autor: Talita Moreira e Catherine Vieira
Fonte: Valor Econômico, 29/04/2005, Brasil, p. A2

A Telecom Italia anunciou ontem que fechou acordo para comprar a participação do Opportunity na Brasil Telecom (BrT) e encerrar a disputa judicial na empresa, por 341 milhões de euros. A notícia surpreendeu o Citigroup e fundos de pensão, que se preparavam para assumir o controle da operadora. O acordo encerra a ruidosa guerra judicial que o grupo italiano vinha travando com o Opportunity para voltar ao bloco de controle da Brasil Telecom - do qual havia se afastado em agosto de 2002 para lançar a operação nacional da TIM, empresa de telefonia móvel. Porém, a reviravolta pode abrir novo foco de conflito, agora com o Citigroup e as fundações, que até então pareciam estar alinhados com italianos e para quem negociavam a venda de suas ações.

O presidente da Telecom Italia no Brasil, Paolo dal Pino, afirma que o controle da operadora será compartilhado com os demais acionistas. "O Citigroup e os fundos são muito importantes para gerar valor para a companhia. Vamos ajudá-los a tomar posse da participação que têm na Brasil Telecom", diz ele. O executivo acrescenta que a Telecom Italia continua interessada em adquirir a fatia do banco americano e das fundações na BrT, para assumir o controle total da operadora de telefonia. A Telecom Italia vai pagar 291 milhões de euros pelas ações do Opportunity e 50 milhões de euros para encerrar o litígio com o banco de Daniel Dantas. Além de adquirir as participações do Opportunity, a Telecom Italia estabeleceu acordo segundo o qual a TIM vai incorporar as operações de telefonia móvel da Brasil Telecom. Para isso, a licença de exploração do serviço de celular de uma das empresas será devolvida à Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel). Foi assinado entre a Telecom Italia e a Brasil Telecom um protocolo de fusão. A avaliação dos ativos ainda não foi feita e ficará a cargo da Merrill Lynch. Do processo, emergirá uma operadora com cerca de 16 milhões de clientes de telefonia móvel. A BrT terá participação acionária na TIM. No entanto, segundo Dal Pino, a fatia exata só será conhecida depois que for feita a avaliação dos ativos. Em princípio, a Telecom Italia terá 38% do capital votante da Solpart, holding que controla a Brasil Telecom Participações. Essa parcela subirá a pelo menos 42% se os italianos ficarem com as ações do Opportunity Fund no Opportunity Zain - que está três níveis acima da Solpart e detém indiretamente a gestão da BrT. Mas Dal Pino afirma que só comprará a fatia do Opportunity Fund se fizer acordo com o Citigroup e os fundos. Segundo ele, a expectativa é de que isso aconteça em, no máximo, 24 meses. Daniel Dantas disse em entrevista à agência Dow Jones que a Telecom Italia deverá levar esse tempo para assumir o controle total da BrT. Depois disso, o Opportunity não se pronunciou mais. O Citigroup não havia se manifestado até o fechamento desta edição. Dal Pino afirma que o acordo com o Opportunity foi costurado "em uma semana, noite e dia". "Teoricamente, poderia ter sido negociado meses atrás, mas não se conseguiu", diz. O entendimento colocou do mesmo lado da mesa dois sócios que passaram quase três anos numa briga ferrenha pela BrT. Pouco depois que os italianos se afastaram do bloco de controle, a Brasil Telecom - administrada pelo Opportunity - adquiriu sua própria licença de celular. Isso, na prática, inviabilizou o retorno da Telecom Italia à operadora. A batalha levou o Opportunity a contratar a Kroll para espionar a Telecom Italia - razão pela qual Dantas foi indiciado pela Polícia Federal. Para voltar ao comando da Brasil Telecom, o grupo italiano vinha negociando a compra das participações do Citigroup e dos fundos de pensão na empresa. No mês passado, o Citigroup destituiu o Opportunity do posto de gestor do fundo CVC internacional - acionista do Opportunity Zain que administrava na prática a Brasil Telecom. Paralelamente, o banco americano firmou acordo para compartilhar a gestão da operadora com as fundações. Dal Pino ressalta que informou o Citigroup e os fundos sobre o acordo com o Opportunity na manhã de ontem. Representantes dos fundos de pensão afirmam, porém, que não acompanharam as negociações. "Não tínhamos conhecimento dessa operação até hoje (ontem)", diz Alberto Guth, sócio da Angra Partners - gestora do Investidores Institucionais FIA, que comporta as participações dos fundos de pensão. A versão é confirmada por outras fontes ligadas às fundações e ao Citigroup. Ontem, os advogados dos controladores da BrT ainda discutiam os próximos passos. Na semana que vem, o Citigroup e os fundos pretendem convocar assembléia de acionistas da operadora para substituir o conselho de administração, que atualmente é composto em sua maioria por nomes ligados ao Opportunity. Hoje, reunião extraordinária desse conselho decidirá sobre um pacote especial de remuneração para reter na BrT a diretoria da empresa, também composta por pessoas da confiança de Dantas. Os fundos e o banco americano devem pedir à BrT, ao Opportunity e à Telecom Italia os documentos referentes à incorporação da BrT celular na TIM e ao acordo entre os sócios. Ao mesmo tempo, tentarão evitar que Dantas e os italianos votem na assembléia que discutirá o processo de incorporação. Fontes ligadas aos fundos e ao banco americano também estão avaliando se a Telecom Italia pagou pelas ações do Opportunity mais do que elas valeriam no mercado - e por que motivo. Segundo um interlocutor ligado às fundações, há o temor de que possam existir acordos entre a Telecom Italia e o Opportunity que não interessem aos demais sócios. Gerou insatisfação o fato de a Brasil Telecom ter tomado uma decisão sobre o investimento em celulares num momento em que a administração da companhia estaria prestes a mudar - efetivando o afastamento do Opportunity. Os fundos discutem se teriam direito de preferência na compra dos papeís oferecidos aos italianos. Para um interlocutor, o Opportunity deveria ter informado a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) sobre o acordo e sobre uma suposta compra de ações da operadora que teria feito no mercado. A autarquia informou ontem que estava avaliando o material encaminhado sobre a operação. A Anatel divulgou nota dizendo que não foi comunicada pelas partes sobre o entendimento. Da Pino afirma ter conversado informalmente ontem com o ministro das Comunicações, Eunicio Oliveira, e com o presidente da Anatel, Elifas do Amaral Gurgel. O executivo vai se reunir com Gurgel hoje às 15h. Apesar das surpresas na BrT, o Citigroup obteve uma vitória ontem. Conseguiu eleger a maioria dos representantes do conselho de administração do Opportunity Oeste, controladora indireta do Metrô do Rio, na primeira assembléia de empresas da carteira do CVC. Na reunião, segundo fonte ligada às fundações, o Opportunity tentou fazer valer, sem sucesso, um acordo que obrigaria todos os acionistas a votar junto com os representantes do banco carioca. Hoje, ocorrerá a assembléia que discutirá a troca de conselho da Opportunity Daleth, que controla a Sanepar. (Colaborou Cláudia Schüffner, do Rio)