Título: Ex-diretor do FMI dará experiência à equipe
Autor: Arnaldo Galvão
Fonte: Valor Econômico, 29/04/2005, Brasil, p. A4

A escolha de Murilo Portugal para ocupar a Secretaria Executiva do Ministério da Fazenda representa um reforço à equipe econômica de Antônio Palocci, agregando experiência, visão de governo e habilidade política que Portugal construiu ao longo dos anos que ocupou o cargo de secretário do Tesouro Nacional, entre outubro de 1992 a novembro de 1996. Funcionário público de carreira do Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas (Ipea), admirado pelo presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, e com bom trânsito fora do país, Portugal foi um dos assessores especiais do então presidente José Sarney, trabalhou no governo Figueiredo e participou da elaboração de todos os acordos do Brasil com o Fundo Monetário de 1998 em diante. Portugal já havia sido convidado para participar do governo Lula como presidente do Banco Central, antes mesmo de Henrique Meirelles, mas optou por continuar como o representante do Brasil no Fundo Monetário Internacional (FMI), depois de ter ocupado também a diretoria do Banco Mundial. Alexandre Tombini, que ocupará a diretoria de Estudos Especiais do Banco Central, no lugar de Eduardo Loyo, que substituirá Portugal no FMI, estava desde 2001 trabalhando com Portugal no Fundo Monetário. Foi, de março de 1999 a junho de 2001 chefe do Departamento de Estudos e Pesquisas do BC, onde trabalhou na implantação do regime de metas para a inflação e foi o responsável pela construção dos modelos, elaboração dos cenários e simulações econômicas no Copom. Também é um qualificado funcionário do carreira do BC e sua indicação terá que ser aprovada pelo Senado. No FMI, Tombini também participou das negociações dos acordos do país de 2001 a 2004. Já conhece toda a diretoria do Banco Central e foi colega de Rodrigo Azevedo, diretor de Política Monetária do BC, na Universidade de Illinois, onde fez Ph.D em Economia. A indicação de ambos para ocupar cargos importantes na área econômica do governo não representa mudança de orientação da política econômica, mas certamente significa mudança de estilo. Se Eduardo Loyo, que deixa a diretoria do BC, conquistou, junto com Afonso Bevilacqua, a fama de fundamentalista por ser intransigente na gestão da política de juros como instrumento de controle da inflação, Tombini é um funcionário que conhece bem as artimanhas do governo. E Murilo Portugal tornou-se conhecido, junto à burocracia, como um gestor austero que consegue dizer não e deixar seu interlocutor satisfeito. Não são raros os atritos entre a equipe do Ministério da Fazenda e do BC. Marcos Lisboa, que deixa a Secretaria de Política Econômica da Fazenda alegando razões pessoais, teve discordâncias com o BC na questão dos juros no ano passado. Mas não é por essa razão que ele deixa o governo. Recém-casado e às vésperas de ser pai, quer estar com a família no Rio de Janeiro. O secretário do Tesouro Nacional, Joaquim Levy, também tem seus embates por causa do tema juros. A expectativa é que a entrada dos dois novos funcionários em cargos-chave, possa oxigenar a equipe.