Título: Palocci promove trocas na Fazenda e no BC
Autor: Arnaldo Galvão
Fonte: Valor Econômico, 29/04/2005, Brasil, p. A4

O ministro da Fazenda, Antonio Palocci, anunciou ontem mudanças na equipe econômica, mas assegurou que as alterações não significam a adoção de um novo rumo para a política econômica. "Vamos continuar perseverando nessa política", disse. As trocas de nomes foram provocadas, segundo informou a Fazenda, pela saída do secretário de Política Econômica, Marcos Lisboa. Alegando motivos pessoais - a gravidez de sua esposa -, Lisboa disse que voltará a viver no Rio. O secretário-executivo da Fazenda, Bernard Appy, assumirá o lugar de Lisboa. Murilo Portugal Filho, que estava em Washington como diretor-executivo do Brasil no Fundo Monetário Internacional (FMI), voltará ao país para assumir o lugar de Appy. O diretor de Estudos Especiais do Banco Central (BC), Eduardo Loyo, foi indicado para a diretoria-executiva do FMI, como substituto de Portugal. Para as funções de Loyo, foi escolhido o economista e funcionário de carreira do BC, Alexandre Antônio Tombini, que atuava como assessor de Portugal no FMI. Palocci revelou que todas as mudanças foram discutidas com o presidente do BC, Henrique Meirelles. Ontem, no anúncio das novidades, em razão de uma viagem a Cartagena (Colômbia), Meirelles foi representado pelo diretor de Política Econômica, Afonso Bevilaqua. Questionado por jornalistas, Palocci acabou defendendo Meirelles. Ele afirmou que "não há nenhuma indicação de uma real irregularidade" quanto às acusações - sonegação, crime eleitoral e remessa ilegal de recursos - de que o presidente do BC vem senso alvo. Palocci disse que Meirelles está sofrendo com essa situação, mas isso deve ser enfrentado com serenidade. "Tenho certeza de que o Supremo dará o encaminhamento adequado", afirmou. Os ataques que a política monetária vem sofrendo, principalmente em razão da última decisão de elevar os juros básicos para 19,5% ao ano, fazem parte, na opinião de Palocci, da polêmica normal da democracia. Mas ele criticou o fato de esses ataques tratarem mais do remédio (juros) que da doença (inflação). "As respostas da política monetária têm sido satisfatórias. Nos últimos meses, as pressões inflacionárias provocaram a reação do Banco Central, que cumpriu de novo seu papel", defendeu Palocci. O ministro voltou a afirmar que o Brasil vai crescer por um longo período, deixando de ter crises freqüentes. Isso porque, segundo ele, há equilíbrio nas políticas fiscal e monetária, além de os bons números das contas externas indicarem a redução da vulnerabilidade. Palocci rebateu a proposta do presidente da Câmara, Severino Cavalcanti (PP-PE), que defende a ampliação da composição do Comitê de Política Monetária (Copom) e o aumento do controle do Legislativo sobre essas decisões. Para o ministro, isso vai na contramão do mundo e o Brasil segue as tendências das políticas modernas adotando o regime de metas de inflação e dando autonomia operacional ao Banco Central. As acusações diárias contra o conservadorismo do BC são, segundo o ministro, rotineiras na maioria dos países. Mas ele disse desprezar os adjetivos e dar importância aos resultados e à competência técnica da autoridade monetária. "Respeito a polêmica. Faz parte da democracia. Mas os números falam bem mais alto que minhas modestas opiniões", disse Palocci. A comparação que o ministro fez ontem foi entre os ataques aos juros altos e as críticas à política cambial. Disse que o surpreendente desempenho da balança comercial e os resultados do balanço de transações correntes reduziram muito o espaço do debate sobre a sobrevalorização da moeda brasileira frente ao dólar. Lisboa, em sua despedida, negou que tenha sido um crítico da dose de juros altos nos últimos meses. Ele revelou que, no final de 2003, não acreditava num crescimento expressivo do Produto Interno Bruto em 2004, mas reconheceu que o Banco Central estava certo. "É um trabalho difícil e impressionante de análise que surpreendeu a todos", elogiou o secretário.