Título: Bird vê ganho com liberalização agrícola
Autor: Francisco Góes
Fonte: Valor Econômico, 29/04/2005, Brasil, p. A6

A liberalização total do comércio agrícola aumentaria em 20%, em média, o valor agregado da agricultura nos países da América Latina. O valor agregado representa a produção bruta menos o custo dos insumos. Em caso de abertura plena no comércio agrícola, a Argentina teria um ganho de 30% no seu valor agregado agrícola; o Brasil, de cerca de 20% e o México, de 10%, projetou Guillermo Perry, economista-chefe da Banco Mundial (Bird) para a América Latina. A constatação reforça a idéia segundo a qual os países em desenvolvimento devem continuar pressionando nas negociações da rodada Doha da Organização Mundial do Comércio (OMC) por uma maior liberalização em agricultura, diz Perry. As potenciais vantagens da abertura do comércio agrícola são analisadas no livro "Além da cidade: a contribuição rural ao desenvolvimento", publicado pelo Banco Mundial e que será apresentado hoje em seminário promovido pelo Bird e pela Fundação Getúlio Vargas (FGV) em parceria com a Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan) e com o Valor. Perry disse que as projeções sobre os ganhos com a abertura em agricultura são feitas com base em modelos de equilíbrio geral que estimam efeitos estáticos. E admitiu que podem surgir fatos não previstos que terminem superando as expectativas iniciais. Foi o que aconteceu no México, sobretudo no setor industrial, após a implantação do Acordo de Livre Comércio da América do Norte (Nafta, na sigla em inglês), quando muitas estimativas terminaram superadas. O livro do Bird mostra que os países em desenvolvimento aplicam uma proteção em agricultura que supera o protecionismo no setor de manufaturas. "Essa realidade é prejudicial porque não se permite que outros países em desenvolvimento abram mercado para os nossos (latino-americanos) produtos agrícolas e vice-versa", compara Perry. Para ele, os países da região precisam ter consciência de que, ao mesmo tempo em que lutam por maior abertura comercial, devem abrir seus mercados agrícolas, não só por questão de reciprocidade, mas porque é vantajoso. Perry reconheceu que no caso de se chegar à liberalização da agricultura seria preciso conceder mais tempo para a redução de impostos de importação em setores sensíveis. O Bird também mostra que na América Latina a maioria dos governos não presta a devida atenção ao setor rural. Uma constatação é que o gasto público no setor rural na região é ineficiente e desigual, com grande parte dos recursos aplicados na forma de subsídios para grupos específicos de produtores. "É preciso revisar a composição do gasto, concentrando mais recursos para melhorar os bens e serviços públicos nas áreas rurais", diz Perry. Ele se refere à melhoria da educação rural e dos serviços de infra-estrutura, como estradas e eletrificação. O trabalho avalia ainda medidas para tornar mais "pró-pobre" o crescimento rural, dados os altos níveis de pobreza no campo. O levantamento identificou que as famílias que vivem no meio rural recebem, em média, 50% de sua renda de atividades que não são ligadas à agricultura, como comércio ou serviços.