Título: País perde espaço nas compras dos EUA
Autor: Raquel Landim
Fonte: Valor Econômico, 29/04/2005, Brasil, p. A6

A participação dos produtos brasileiros no mercado americano representa metade do registrado há 20 anos. As exportações do Brasil responderam por 1,4% das importações dos Estados Unidos em 2004. Em 1985, o percentual chegava a 2,2%. A informação é do embaixador do Brasil em Washington, Roberto Abdenur, que participou de seminário na Câmara Americana de Comércio (Amcham) ontem em São Paulo. Abdenur atribuiu o fraco desempenho brasileiro às barreiras protecionistas americanas e a incapacidade do governo e do setor privado de sustentar o esforço exportador para os EUA. "Falhamos no esforço de abordar e atacar o mercado americano", disse. "Só em anos recentes, os empresários encontraram um ambiente propício para a exportação no Brasil". Na última década, as exportações brasileiras para os Estados Unidos aumentaram 134%, ante 107% para a União Européia e 91% para o resto do mundo. O crescimento, porém, só foi o suficiente para o Brasil recuperar a participação que possuía no total das importações americanas em 1995. Empresários culpam o atraso na Alca pela perda de participação nos EUA. Abdenur negou que as discussões foram abandonadas, mas reconheceu que, em 2004, as atenções estavam voltadas para a Rodada Doha e que pairavam dúvidas sobre a eleição americana. Ele confirmou que deve ocorrer uma reunião entre o ministro das Relações Exteriores do Brasil, Celso Amorim, e o novo representante do US Trade Representative, Robert Portman, na segunda-feira. Abdenur avaliou que a aprovação do acordo de livre comércio entre os EUA e a América Central (Cafta) será um teste para o governo do presidente Bush. "Se o governo não passar o Cafta, sua autoridade ficará prejudicada. Será um problema para a Alca", diz. Para o economista do Instituto for International Economics, Gary Hufbauer, que participou do seminário na Amcham, os discursos de Brasil e EUA sobre a Alca serão mais otimistas, mas será necessário alterar o modelo de Alca "light" de Miami para a negociação avançar. "É preciso encontrar um 'framework' realista, que inclua questões que os países querem negociar", diz Hufbauer. Abdenur reforçou que o Brasil não abrirá mão do compromisso de Miami.