Título: Verticalização dificulta aliança com o PMDB em 2006, diz Renan
Autor: Raymundo Costa
Fonte: Valor Econômico, 29/04/2005, Política, p. A8

A insistência do governo na verticalização das eleições já ameaça a eventual aliança entre o PMDB e o PT, na sucessão do presidente Lula, admite o presidente do Senado, Renan Calheiros. "A verticalização reduz as chances de todas as coligações, inclusive a do PMDB com o PT", disse Renan ao Valor. Na avaliação do senador por Alagoas, se a verticalização for mantida, como querem o Palácio do Planalto e o PT, o mais provável é que o PMDB tenha candidato próprio a presidente da República, em 2006. A questão da verticalização é um novo item na lista de contenciosos do aliados de Lula no partido com o governo. É uma lista extensa, que vai desde o modelo adotado pelo Planalto para a coordenação política à partilha de cargos federais. Para o PMDB, o governo não cumpriu sua parte em um acordo pelo qual teria se comprometido a votar o fim da verticalização na terça-feira. O PT alega que se comprometera apenas a colocar o assunto em pauta. A votação, que deveria ter ocorrido na Comissão de Constituição e Justiça da Câmara, foi adiada devido a um pedido de vistas do PT. O temor dos pemedebistas é que o governo protele a votação de modo a impedir que a decisão seja tomada em tempo hábil: para valer nas eleições de 2006, o fim da verticalização precisa ser decretado até um ano antes da eleição, ou seja, o início de outubro próximo. Como se trata de emenda constitucional, cuja tramitação é mais demorada, esse prazo pode ser insuficiente. De acordo com a cúpula pemedebista, nos últimos dias, o ex-governador Anthony Garotinho teria instruído sua bancada de deputados a trabalhar a favor da manutenção da verticalização, por avaliar que ela ajudaria sua candidatura presidencial, em 2006. O recado que o PMDB governista tenta transmitir ao Planalto ao PT é que, ficando livre para fazer as coligações de acordo com seu interesse nos Estados, ficará mais fácil para a sigla fazer uma aliança e dar seu tempo de TV para Lula nas eleições. No PT, o enfoque é diametralmente oposto: se o PMDB admite fechar nacionalmente com Lula, por que então está contra a verticalização? Em mais de uma ocasião, o presidente disse aos dirigentes pemedebistas que quer a coligação, mas com o partido por inteiro, o que é difícil, devido às divisões da sigla. Desde que trocou a função de líder pela presidência do Senado, Renan Calheiros tem evitado se envolver com os assuntos da bancada. Mas esta semana também passou a dar sinais de desconforto, por julgar que a atuação política do governo ameaça a maioria no Senado. A pessoas próximas, Renan disse que está sacando de seu "capital com a oposição" para assegurar as votações. Ao contrário da Câmara, que não fez nenhuma votação nominal desde a posse de Severino Cavalcanti (PP-PE), o Senado aprovou inclusive emendas constitucionais. A exemplo da bancada do PMDB, Renan avalia que o modelo de coordenação política do governo está errado, independentemente de pessoas. A amigos, o presidente do Senado confidenciou que só a unificação da coordenação em uma só pessoa, de preferência de fora do PT, pode resolver o problema. "Se o PT tem dificuldades para administrar suas correntes, imagina alguém do PT gerenciando a relação PT-PMDB?", perguntou, em uma dessas conversas. Para Renan, é inevitável que um petista sempre jogue a favor da própria legenda ou de seus aliados históricos, como fez o ministro José Dirceu (Casa Civil), em Natal, ao anunciar apoio à reeleição da governadora Wilma Maia (PSB), o que levou o senador Garibaldi Alves (PMDB), também candidato a governador, a se desligar da vice-liderança do governo no Senado - a função será ocupada pelo ex-ministro Amir Lando (RO). Nas avaliações internas, Renan argumenta que atitudes como essa "dificultam 2006", mas também "dificultam agora governabilidade. Uma coisa levaria à outra", diz.