Título: Comando da campanha de Marta discute hoje estratégia para o 2º turno
Autor: Cristiano Romero
Fonte: Valor Econômico, 11/10/2004, Política, p. A-4

Depois de uma semana de impasse, provocado pelas feridas abertas pela derrota inesperada no primeiro turno da eleição, o comando da campanha da prefeita Marta Suplicy (PT) reúne-se hoje, em São Paulo, para analisar as últimas pesquisas de opinião e traçar uma estratégia para a disputa no segundo turno. A nova campanha, que dessa vez terá a participação integral da prefeita, licenciada do cargo, começará na sexta-feira. Na semana passada, nada funcionou. Marta, dirigentes e parlamentares petistas ligados à campanha ficaram sob o impacto do resultado das urnas na primeira rodada da eleição. Os números surpreenderam negativamente os coordenadores da campanha, que esperavam, no mínimo, um empate, como apontavam as pesquisas, e não uma derrota para o candidato da oposição, José Serra (PSDB), com quase oito pontos percentuais de diferença, equivalente a 477 mil votos. Os partidários de Marta Suplicy não esperavam que, já no primeiro turno, Serra se tornasse beneficiário da transferência de votos dos candidatos Luiza Erundina (PSB) e Paulo Maluf (PP). Essa transferência cristalizou a percepção de que a rejeição à Marta é grande e crescente. Uma parcela dos eleitores de Erundina e Maluf nem esperou a chegada do segundo turno para expressar essa rejeição. Intrigou também os petistas o fato de que Serra obteve votação significativa em redutos do PT e em zonas pobres da cidade, onde está hoje a maioria dos eleitores de Marta, que dedicou preferencialmente os esforços de sua gestão ao atendimento das parcelas mais pobres da população. Para piorar a situação da campanha petista na semana pós-primeiro turno, uma crise financeira paralisou os trabalhos. Contratado para cuidar da publicidade e sem receber seus pagamentos, o baiano Duda Mendonça, por exemplo, passou a semana em Salvador. "O ambiente estava muito confuso", comentou um assessor da campanha. Durante a semana que passou, uma pesquisa feita por telefone (um "tracking", na linguagem dos publicitários) indicou diferença de oito pontos percentuais, em favor de José Serra, nas intenções de voto apuradas depois do primeiro turno. Embora essa amostragem não seja considerada muito acurada, os petistas da campanha de Marta acreditam que uma diferença inferior a dez pontos percentuais dá esperanças a uma reversão do resultado. O problema é que a pesquisa divulgada ontem pelo Datafolha apontou dianteira de 12 pontos percentuais para Serra. Antes da divulgação da pesquisa, os integrantes da campanha avaliavam que uma diferença entre dez e 15 pontos dá à prefeita "chances pequenas" de reversão do quadro atual. Se passar de 15 pontos, explicam os especialistas da campanha de Marta, fica "muito difícil" virar o placar. No Palácio do Planalto, onde o pessimismo em relação às chances da prefeita já era exacerbado antes mesmo do primeiro turno, a avaliação é parecida e tem um agravante: para o governo Lula, não interessa, nessas circunstâncias, que o PT parta para uma campanha agressiva contra o PSDB, esgarçando ainda mais o já delicado relacionamento com a oposição. Os governistas temem que, na defensiva, Marta e o PT de São Paulo aumentem ainda mais o tom dos ataques aos tucanos. Isso pode prejudicar as votações de projetos importantes para o governo, principalmente, no Senado. Mesmo uma diferença entre Serra e Marta inferior a dez pontos é considerada "difícil" pelos petistas, mas justifica, na opinião deles, a busca da vitória nas três semanas restantes de campanha. "Com menos de dez pontos de dianteira para Serra, vamos para cima do (Geraldo) Alckmin (governador de São Paulo, do PSDB). Ele é o grande eleitor do Serra", comentou um assessor da campanha, informando que o principal tema a ser explorado nos próximos dias é o aumento da violência em São Paulo e a "inoperância" do governo paulista para enfrentá-lo. De fato, bem avaliado, Alckmin saiu fortalecido do primeiro turno das eleições municipais. Seu partido elegeu 191 prefeitos no Estado, contra 51 eleitos pelo PT, e recebeu 6,8 milhões, 1,4 milhão acima do total de sufrágios recebidos pelo partido de Marta. O desempenho dos tucanos foi ainda mais surpreendente, se se levar em conta que eles derrotaram o PT em sua base eleitoral (capital e grandes cidades de São Paulo), num momento em que a oposição ao governo Lula vinha enfraquecendo e o PT mostrando força eleitoral no restante do país. Nos últimos dias, os petistas lamentaram os erros cometidos na campanha. A maioria deles diz respeito à conduta pessoal de Marta. Muito antes da eleição, os dirigentes do PT temiam que fatos como o divórcio do senador Eduardo Suplicy, seguido de casamento com o franco-argentino Luis Favre, prejudicassem a imagem pública da prefeita e suplantassem a percepção da "boa" gestão à frente da prefeitura. "Foi a excelente administração da prefeitura que a levou ao segundo turno. No início da campanha, ela tinha 16% das intenções dos votos e terminou com 35,8%", observou um assessor do presidente Lula. Em Porto Alegre, as duas primeiras pesquisas para o segundo turno, divulgadas neste fim de semana, mostram tendências contraditórias. Segundo o jornal "Correio do Povo", o candidato do PPS, José Fogaça, receberia 51,3% dos votos, com quase dez pontos de vantagem sobre os 41,7% de Raul Pont, do PT. Pelo levantamento realizado pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) por encomenda do grupo RBS, Pont teria 45,1% da preferência do eleitorado, contra 44,3% de Fogaça. O "Correio do Povo" admite uma margem de erro de 2,4 pontos para mais ou para menos. No levantamento da UFRGS, a margem de erro é de quatro pontos. (Colaborou Sérgio Bueno, de Porto Alegre)