Título: CSN quer ativos da Vale para ampliar área de mineração
Autor: Patrícia Nakamura
Fonte: Valor Econômico, 29/04/2005, Empresas &, p. B4

A Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) tem planos ambiciosos para suas atividades de mineração e já mostra interesse em comprar ativos da Companhia Vale do Rio Doce (CVRD) caso a mineradora tenha que se desfazer de jazidas e sua participação na ferrovia MRS Logística por decisão do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade). "Somos o primeiro da fila de interessados se as minas forem mesmo à venda", disse ontem em teleconferência Lauro Rezende, diretor executivo de investimentos da CSN, para detalhar o balanço do primeiro trimestre. Ele afirmou que a empresa vai transformar a área de mineração num negócio tão forte quanto o de siderurgia. O interesse recai sobre matérias-prima ligadas ao seu processo de produção, como minério de ferro, estanho e carvão, além de dolomita e calcário. Segundo o executivo, a velocidade dessas aquisições vai depender da oportunidade de negócios. No início de abril, a CSN adquiriu da Brascan a Estanho de Rondônia S/A (Ersa), que exigirá investimentos de R$ 59 milhões até 2009. Assim, garantirá a auto-suficiência do metal. A empresa também manifestou interesse, em março, em prospectar carvão na Venezuela. Os ativos ferroviários da Vale também despertam a cobiça da CSN, que trabalha na viabilidade da reestruturação da CFN/Transnordestina, para escoamento da produção mineral para os portos de Pecém (CE) e Suape (PE), além da safras agrícolas. A Secretaria de Direito Econômico (SDE) emitiu recentemente um parecer afirmando que a Vale fere os princípios da concorrência na mineração e na logística e sugere a venda de ativos. O processo será julgado pelo Cade, ainda sem data marcada. O diretor executivo de planejamento e gestão da Vale, Gabriel Stoliar, rebateu ontem, no Rio, as pretensões da CSN, dizendo que a mineradora é "compradora e não vendedora de ativos". Enquanto aguarda posicionamento do Cade sobre a suspensão do direito de preferência de compra pela Vale do minério da mina Casa de Pedra, a CSN trabalha na expansão dessa mina, em Minas, que deve chegar às 40 milhões de toneladas anuais do produto no fim de 2006. Segundo o diretor financeiro da empresa, Otávio Lazcano, deve sair entre 30 e 40 dias a aprovação de um empréstimo ao projeto de cerca de US$ 350 milhões do BNDES. O projeto, que inclui também a reforma do Porto de Sepetiba (RJ), está orçado em US$ 800 milhões. "O JBIC e alguns fabricantes de equipamentos também têm interesse em financiar a obra". Auto-suficiente em minério de ferro, a CSN comercializa 8 milhões de toneladas das 16 milhões que extrai atualmente. "O reajuste do minério no começo do ano trouxe vantagem competitiva e rentabilidade à empresa", disse Lauro Rezende. Para a CSN, os preços do aço devem se manter nos mesmos níveis que os observados no final do ano passado, apesar da elevação dos custos das matérias-primas. De acordo com Rezende, após dois anos de forte valorização causada pela escassez de produtos siderúrgicos, chegou-se num equilíbrio entre a demanda e a oferta. A queda de preço nos Estados Unidos, segundo ele, é justificada pelo fim do prêmio pago pelos importadores na época da falta do material no mercado. "O preço estava muito acima da média mundial". O volume de vendas deve chegar aos 5,3 milhões de toneladas neste ano; deve ser destinado ao mercado externo 25% desse total, ou um pouco mais, dependendo da evolução do mercado local. A CSN disse manter o preço dos laminados a R$ 1,8 mil por tonelada e das placas a R$ 978 reais. A empresa trabalha com previsão de crescimento de PIB em 3,5%.