Título: Para BC, a economia está mandando sinais trocados
Autor: Alex Ribeiro
Fonte: Valor Econômico, 29/04/2005, Finanças, p. C1

O Banco Central assinala que há algo de estranho no padrão de crescimento observado recentemente. De um lado, setores dependentes do aumento do emprego e da renda perderam fôlego; de outro, setores de bens duráveis, dependentes de crédito, mantêm tendência de expansão. É justamente o contrário do que se esperava no quadro atual. O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central discute esse quadro em sua ata de abril, divulgada ontem, e aventa se não estaríamos diante de uma mera distorção nas estatísticas de produção industrial e de vendas do comércio. Desde meados de 2004 o Copom vem repetindo o discurso de que, daqui por diante, a economia será puxada cada vez mais pelos chamados fatores de autopropagação - ou seja, emprego e renda -, e menos pelos estímulos de política monetária. A mensagem nos documentos oficiais do Comitê é que esse é um padrão normal quando uma economia entra em um ciclo de crescimento sustentado. Estímulos como o crédito têm apenas efeito inicial para puxar a economia nas recuperações cíclicas, ou seja, quando a economia sai da recessão para a expansão. A ata do Copom destaca que, em fevereiro, houve queda na produção industrial de bens de consumo não-duráveis, como farmacêuticos, alimentos, bebidas, refino de petróleo e produção de álcool. São todos setores influenciados pela renda, que está se expandindo. Os bens duráveis, por outro lado, tiveram expansão de 11,8%, influenciada por automóveis e celulares (itens da pauta de exportações). "O quadro observado (...) não parece consistente com a fase atual do ciclo econômico", diz o documento. Fato similar foi observada no comércio varejista. Em meses anteriores, o Copom chegou a citar essa nova composição da produção como um fato positivo para o equilíbrio entre a oferta e a demanda agregada - já que os setores de bens semiduráveis e não-duráveis são os que apresentam maior capacidade ociosa, ao contrário dos bens duráveis, mais próximos do limite. O Copom especula se esse fenômeno se deve a algumas distorções puramente estatísticas. Uma delas é o fato de a colheita de cana-de-açúcar ter sido adiada - retardando seu processamento - e ter sido reduzido o refino de petróleo. Outra hipótese é a grande presença de feriados no período analisado, que podem causar distorções na dessazonalização dos números. "Mais observações serão necessárias para caracterizar possíveis mudanças no padrão da atividade industrial", conclui a ata. (AR)