Título: Ata do Copom deixa em aberto a continuação da elevação do juro
Autor: Alex Ribeiro
Fonte: Valor Econômico, 29/04/2005, Finanças, p. C1

A ata da reunião de abril do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central, divulgada ontem, deixa uma porta aberta para novas altas na taxa de juros e outra para um eventual fim do ciclo de aperto na política monetária. A única mensagem clara e direta emitida no documento é que, na hipótese de os juros pararem de subir, eles deverão continuar elevados por um período relativamente longo de tempo para fazer a inflação entrar na trajetória das metas. Na ata, o Copom diz que as perspectivas inflacionárias em prazos superiores a 12 meses são favoráveis, mas assinala que, no curto prazo, há dois focos de risco importantes: a inflação corrente tem se mostrado muito alta, devido a vários choques de oferta, e manteve-se a tendência de deterioração nos mercados internacionais.

"A manutenção de riscos elevados para a inflação no curto prazo tende a aumentar a incerteza em relação ao comportamento futuro da inflação", diz a ata. Esse quadro, prossegue o Copom, dificulta "tanto a avaliação dos cenários (para a evolução da inflação) pela autoridade monetária quanto a coordenação das expectativas dos agentes privados". Ou seja: o receio é que a pressão inflacionária de curto prazo comprometa o quadro - até aqui benéfico - de longo prazo. A rigor, as perspectivas de inflação de prazos superiores a 12 meses, período relevante para as decisões de política monetária, até tiveram melhora em relação ao quadro observado na reunião de março pelo Copom. Nos 12 meses encerrados em junho de 2006, a inflação medida pelo IPCA continua projetada nos 4,6% apontados no relatório de inflação de março, diz a ata, sem especificar os percentuais. Como a meta para 2006 é de 4,5%, esse percentual significa que, já em meados do próximo ano, a inflação terá atingido patamar mais do que adequado. Nos trimestre seguintes, as projeções de inflação só fazem baixar, registra a ata. A inflação estimada para os 12 meses encerrados em setembro de 2006 estão ainda mais baixas do que os 4,1% anteriormente projetados (no relatório de inflação de março) para o período. O mesmo vale para dezembro de 2006, quando antes era esperada uma inflação de 3,8%, abaixo da meta. Ou seja: caíram em relação a percentuais que já eram menores que a meta. "As projeções para o cenário de referência (dólar a R$ 2,60 e Selic estável em 19,25% ao ano) para os períodos de 12 meses que se encerram em junho de 2006 e em setembro de 2006 se encontram abaixo dos valores da trajetória de metas", diz a ata. Ou seja: em prazos mais longos, dentro do período que a inflação é sensibilizada pelas decisões de política monetária, os prognósticos são favoráveis. O lado negativo é a inflação no curto prazo. O índice projetado para 2005 - que antes se estimava em 5,5%, já acima da meta ajustada de 5,1% para o ano - voltou a subir. "Essa deterioração deveu-se a uma conjunção de fatores, entre os quais a revisão das projeções para preços administrados, e refletiu, principalmente, uma revisão da projeção de inflação para abril", diz a ata. O mesmo mês de abril de 2005 provocou elevação nas projeções nos 12 meses encerrados em março de 2006, em relação ao percentual de 5% antes estimados. Mas de a inflação de curto prazo não contaminar o longo prazo, tudo bem. Nesse aspecto, a princípio, a visão do BC é otimista. A ata, em outros trechos, descreve com precisão os fatores que levaram à elevação da inflação de curto prazo - e destaca sobretudo o fato de que não são permanentes. São fatores como a quebra da safra e reajustes acima do previsto para tarifas. O quadro geral é de aumento de preços livres, e desaceleração dos preços livres. Os dados de tendência de inflação melhoraram: a ata destaca que, em março, embora a inflação tenha se mantido no mesmo patamar dos dois meses anteriores, "reduziu-se novamente o número de itens que tiveram incremento de preços." O documento destaca que o núcleo de inflação por exclusão de preços monitorados e de alimentos "apresentou forte desaceleração" e que, no caso do núcleo por médias aparadas "apresentaram aceleração por incorporarem parcialmente itens afetados por variações sazonais". Num cenário ainda tão nebuloso, o BC evita se comprometer antecipadamente com suas decisões futuras, anunciando que vai "acompanhar atentamente a evolução do cenário prospectivo para a inflação até a sua próxima reunião, para então definir os próximos passos na (sua) estratégia de política monetária".