Título: Severino apresenta proposta a vice e recebe crítica do presidente do Senado
Autor: Raymundo Costa, Taciana Collet e Henrique Gomes Ba
Fonte: Valor Econômico, 29/04/2005, Finanças, p. C1

Um dia depois de propor a criação de uma comissão para mudar a política de juros do país, o presidente da Câmara, Severino Cavalcanti (PP-PE), se reuniu com o vice-presidente José Alencar, que já havia manifestado apoio à idéia de retirar do Comitê de Política Monetária (Copom) a competência exclusiva de definir a taxa Selic, hoje em 19,5% ao ano. Alencar e Cavalcanti conversaram por quase duas horas. O presidente da Câmara deixou o Palácio do Planalto com a certeza de que tem um aliado para levar a proposta adiante, mas sofreu um revés no Senado, onde o presidente da Casa, Renan Calheiros, condenou a iniciativa. "É irresponsável. Não dá para politizar um assunto desses. Será muito pior. Retira o que há de credibilidade e solapa a independência do Banco Central, o que provavelmente levará a mais aumentos na taxa de juros", disse. Renan acredita que esse tipo de debate só ocorre por responsabilidade do próprio governo federal. "Quando não se prioriza uma agenda nacional que prestigie a necessidade de políticas de desenvolvimento nacional abre-se espaço para esse tipo de sugestão", afirmou. Qualquer projeto de lei eventualmente aprovado pela Câmara terá de ser respaldada pelo Senado. Com a oposição de Renan, isso dificilmente acontecerá. O máximo de apoio que Severino pode esperar é à idéia de levar o ministro-presidente do BC a explicar aumentos da taxa Selic ao Congresso ou à de ampliar o número de integrantes do Copom. Antes de condenar a iniciativa de Severino, o presidente do Senado conversou com o deputado Armando Monteiro (PTB-PE), também presidente da CNI (Confederação Nacional da Indústria). Monteiro manifestou apreensão em relação à possibilidade de que o ambiente político contamine a economia, levando a mais aumentos de juros, mas admitiu a proposta de ampliação do número de integrantes do Copom. Severino, no entanto, não se dá por vencido. "Acredito que temos força suficiente para baixar os juros, com a união do presidente da Câmara, do vice-presidente e do próprio presidente da República, que disse que a população não deveria ficar sentada, mas sim lutar para que os juros não fossem tão altos", disse. Severino referia-se ao discurso do presidente Luiz Inácio Lula da Silva na segunda-feira, quando disse que os brasileiros são comodistas e não "levantam o traseiro para mudar de banco" na procura de juros mais baixos. "O vice-presidente me disse que está ao lado da posição que assumimos de que os empresários e a população não podem pagar altas taxas de juros. Nós vamos estudar juntos o que podemos fazer", afirmou Severino. O presidente da Câmara ressaltou que o vice José Alencar foi quem primeiro começou a "guerrear" contra os juros altos. "Eu apenas o acompanhei e vou nessa luta até o fim, porque a sociedade não pode ser castigada como está sendo em benefício só dos banqueiros", afirmou. "Os banqueiros têm de dar um paradeiro nos seus altos lucros. Os diretores do Banco Central estão fazendo com que os banqueiros fiquem mais ricos." Questionado sobre a ata do Copom divulgada ontem, sinalizando que os juros podem continuar subindo, Severino respondeu: "É isso que nós não podemos aceitar". A taxa Selic vem subindo há oito meses. O presidente da Câmara reiterou que é preciso haver algum tipo de controle sobre a taxa de juros. "Se é para controlar pela Câmara dos Deputados, ou não, eu não sei. O que precisa é baixar os juros", acrescentou. Severino fez questão de dizer que ele e o vice-presidente são "dois homens bem-intencionados" com uma "identificação perfeita". Além de anunciar a criação da comissão, Severino apresentou um projeto de lei que obriga o presidente do Banco Central a esclarecer ao Congresso todos os aumentos de juros nos país, em um prazo que não poderá ultrapassar dez dias da fixação da nova taxa. Pela proposta, se o presidente do BC não comparecer para dar explicações poderá ser processado por crime de responsabilidade.