Título: Insumos em alta e câmbio tiram ganho da exportação
Autor: Sergio Lamucci e Raquel Landim
Fonte: Valor Econômico, 11/10/2004, Especial, p. A-8

Empresas querem aumentar preços e importar mais

A rentabilidade das exportações brasileiras recuou consideravelmente nos últimos meses em grande parte devido à queda do dólar - o câmbio médio de setembro ficou em R$ 2,89, 7,7% abaixo do nível médio de junho - mas também pela elevação dos custos industriais medidos pela inflação no atacado. Em agosto e setembro, a rentabilidade das vendas externas acumulou uma queda de cerca de 5,5% em relação a julho, segundo cálculos preliminares da Fundação Centro de Estudos de Comércio Exterior (Funcex). Este menor rendimento, porém, não deve provocar problemas para a balança comercial, pelo menos no curto prazo. As empresas estão buscando diferentes alternativas para compensar a perda de rentabilidade. Algumas, como a Fundidos de Precisão (Fupresa), voltaram a cotar insumos no exterior e podem aumentar importações. Transformar a queda do câmbio em vantagem também faz parte da estratégia da Bosch, enquanto a São Paulo Alpargatas planeja repassar aos clientes no exterior o custo da menor rentabilidade. Pelos cálculos já fechados de agosto, a rentabilidade caiu 2,6% naquele mês, informa o economista Fernando Ribeiro, da Funcex. Para setembro, ele projeta perda próxima a 3,0%, já que o câmbio continuou o movimento de apreciação. Apesar da queda, o índice de rentabilidade voltou para níveis próximos aos vigentes entre setembro de 2003 e abril deste ano, período em que as vendas externas tiveram um desempenho muito positivo. O ganho também está sendo afetado pelo aumento de custos. Até setembro, o Índice de Preços no Atacado - Disponibilidade Interna (IPA-DI) subiu 12,31%. Angela Irata, diretora de exportações da São Paulo Alpargatas, confirma que, em setembro, a valorização do real provocou uma queda de 3% na rentabilidade das exportações da empresa. "Mas isso é natural no nosso negócio", diz. Segundo a executiva, esse percentual é facilmente repassado para o importador, dado o posicionamento da marca no exterior. Fabricante das sandálias Havaianas, a empresa vende seus produtos para as classes A e B de países como EUA, Austrália, Japão ou União Européia. A companhia prevê fechar o ano com 10% de seu faturamento proveniente da exportação. Em 2003, foram 4%. Ribeiro, da Funcex, entende que a queda do dólar não é preocupante desde que a moeda não fique no nível atual por muito tempo. Para ele, o recuo da rentabilidade deve ser analisado com cuidado porque alguns setores, como a agropecuária e o siderúrgico, foram compensados pela forte alta dos preços de venda. A Funcex dispõe de números setoriais até junho - anteriores, portanto, à recente valorização cambial. Eles mostram que o rendimento das exportações da agropecuária avançou 11% em relação ao primeiro semestre de 2003. Na siderurgia, o ganho foi de 3%. Outro ponto importante a notar é que, de janeiro de 2003 a agosto deste ano, o índice de rentabilidade das exportações caiu 11,3%, o que não impediu que o volume exportado pelo Brasil aumentasse 60,8% no período. Besaliel Botelho, vice-presidente da unidade de sistemas à gasolina da Bosch, está otimista e afirma que "mesmo um pouco abaixo de R$ 3, o câmbio é exportador". Ele explica que se trata de um patamar "saudável" que não prejudica a competitividade do produto brasileiro no exterior.