Título: Amortização de dívida e compras externas devem elevar dólar a R$ 3,0
Autor:
Fonte: Valor Econômico, 11/10/2004, Especial, p. A-8

A queda do dólar para a casa de R$ 2,85 ainda não preocupa a maior parte dos analistas, principalmente porque a percepção é de que a recente apreciação cambial é um movimento transitório. As projeções das cerca de 100 instituições consultadas semanalmente pelo Banco Central (BC) apontam para um dólar de R$ 3 no fim do ano, embora algumas já trabalhem com uma moeda a R$ 2,90 em dezembro. O economista Fernando Ribeiro, da Fundação Centro de Estudos de Comércio Exterior (Funcex), acredita que o dólar não deve se sustentar por muito tempo nos níveis atuais. Para ele, um câmbio entre R$ 2,85 e R$ 2,90 até o fim do ano não incomoda. As exportações, avalia ele, só tendem a perder dinamismo se o dólar ficar nesse nível por vários meses em 2005. A economista Mônica Baer, da MB Associados, espera alguma desvalorização do real nos próximos meses, devido à redução de exportações e aumento de importações que costumam ocorrer no fim do ano, e também pelo maior volume de amortização de dívida externa nos próximos meses. Para Mônica, o dólar deve encerrar o ano em R$ 3,05. Mesmo se o câmbio ficar mais valorizado, ela entende que o saldo da balança comercial não deverá desabar porque hoje as exportações fazem parte da estratégia das empresas. A questão é que, se concretizado esse quadro, os empresários tenderiam a ficar mais cautelosos, adiando investimentos, afirma. Mônica prevê um superávit comercial de US$ 30 bilhões neste ano e US$ 25 bilhões em 2005. Para o fim do próximo ano, ela acredita num câmbio de R$ 3,25. Se a alta do dólar prevista por Ribeiro e Mônica ocorrer, contudo, ela não deverá se dar com a ajuda do Banco Central. Para a instituição, o tombo da moeda americana parece ter vindo a calhar. Como o centro da meta de inflação para 2005 - recentemente ajustado de 4,5% para 5,1% - é muito ambicioso, a valorização cambial é vista com bons olhos pelo BC. Para o ex-diretor do BC Sérgio Werlang, diretor do Itaú, quando a moeda caiu abaixo de R$ 3, a autoridade monetária deveria ter agido para reduzir a vulnerabilidade externa do país. Uma maneira seria reduzir mais rapidamente a dívida cambial doméstica, recomprando papéis corrigidos pelo dólar antes mesmo do vencimento. Outra opção seria o Tesouro - e não o BC - recomprar dólares no mercado, para recompor as reservas internacionais, avalia Werlang. "Essa seria a minha opção, mas o BC parece estar mais preocupado com a inflação", afirma ele, que não vê, porém, a estratégia do BC como errada. "Não é uma política que leve a uma catástrofe." Werlang considera mais conveniente que o Tesouro adquira os dólares no lugar do BC, porque compras da autoridade monetária tendem a ser interpretadas como um sinal de que a instituição deseja definir um piso para a taxa de câmbio. Werlang acredita num saldo comercial de US$ 29 bilhões para o ano que vem, mesmo se o câmbio real se mantiver ao longo de 2005 no nível equivalente a R$ 2,88 de hoje. A previsão do diretor do Itaú contempla ainda uma queda dos preços das commodities e um crescimento de 3% da economia no ano que vem. Para este ano, ele prevê um saldo de US$ 34 bilhões. Há quem considere, porém, a valorização do câmbio um movimento mais permanente. O economista-chefe do ABN AMRO, Mário Mesquita, projeta um dólar a R$ 2,90 no fim deste ano e a R$ 2,91 no fim de 2005, o que pressupõe que a moeda vai se valorizar em termos reais no ano que vem. O ABN AMRO acredita num câmbio mais valorizado por causa da queda do risco-Brasil, dos fluxos comerciais mais fortes e da perspectiva de que o BC não intervenha para segurar as cotações. Com um dólar mais barato, o saldo comercial deve cair de US$ 31,7 bilhões neste ano para US$ 22,1 bilhões em 2005, de acordo com as previsões de Mesquita, que estima um crescimento de 5% em 2004 e de 3,7% no próximo ano. O diretor-executivo do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), Júlio Sérgio Gomes de Almeida, avalia que, para as exportações brasileiras crescerem a um ritmo mais forte do que a média dos países em desenvolvimento, será necessário um câmbio um pouco mais desvalo