Título: Mercosul define base mínima para UE
Autor: Francisco Góes
Fonte: Valor Econômico, 11/10/2004, Especial, p. A-8

A União Européia (UE) terá de recolocar sobre a mesa proposta feita ao Mercosul melhorando as cotas de exportação de carne bovina e de frango, se quiser fechar o acordo entre os dois blocos até 31 de outubro. O Mercosul também insistirá com a UE que a administração das cotas tem de ficar com os exportadores e não com os importadores europeus. Esses pontos fazem parte do que o bloco do Cone Sul considera como "base mínima" para fechar o acordo de comércio com a UE até o fim do mês, quando termina o mandato da atual Comissão Européia. O Mercosul também analisa oferecer contrapartidas aos europeus. "Estamos dispostos a fazer um exame em um ou outro ponto - não será em dez, nem em vinte - para dar alguma flexibilidade adicional desde que se confirmem as condições que consideramos mínimas na oferta européia", disse, sábado, o chanceler Celso Amorim. Ele não quis antecipar em que pontos o Mercosul poderá ceder ainda mais. Ele confirmou que o bloco aceitou convite feito pelo primeiro-ministro de Portugal, Pedro Santana Lopes, para encontro com o comissário de comércio da UE, Pascal Lamy, dia 20, em Lisboa. Os quatro ministros das Relações Exteriores do Mercosul deverão participar da reunião, que será decisiva para definir se será possível fechar o acordo birregional no prazo ou se haverá necessidade de fixar um novo calendário negociador. Amorim deixou claro que os dois cenários são válidos. Ele indicou que a reunião de Lisboa dirá se será possível, a partir do dia 20, marcar encontros técnicos para avaliar pontos específicos da negociação ou se será preciso definir um plano futuro para o acordo. "Estamos abertos a várias hipóteses", disse Amorim após reunir-se por duas horas com seus colegas da Argentina (Rafael Bielsa), do Paraguai (Leila Rachid) e do Uruguai (Didier Opertti), no Hotel Copacabana Palace, no sábado. O encontro serviu para o Mercosul definir a estratégia dos próximos dias e esta semana será decisiva. Bielsa indicou que deverá ser realizada reunião técnica em Brasília, sexta e sábado, para fechar o documento do Mercosul a ser apresentado à UE. Amorim manterá contatos telefônicos com Lamy para ter parâmetros mais precisos sobre os sinais da UE. Fonte próxima às negociações reconheceu que o trabalho mais difícil estará nas discussões internas de cada país do bloco junto ao setor privado. "Há problemas setoriais que precisam ser resolvidos", disse a fonte. Lembrou que Brasil e Argentina têm resistências a uma maior abertura no setor automotivo, o que provocou reclamações dos europeus após a apresentação da oferta melhorada do bloco do Cone Sul, no dia 24 de setembro. O Mercosul propôs prazo de 18 anos para liberalizar o comércio de automóveis com a UE comparado a dez anos em outros setores. A fonte lembrou que enquanto o Brasil tem maior interesse na abertura do setor de vestuário à UE, o Uruguai mostra-se receoso. Na área agrícola, há consenso no Mercosul de que o aumento das cotas para alguns produtos, sinalizado pela UE nos últimos meses, precisa ser oficializado. O tema foi mencionado nas negociações, mas não chegou a ser incluído na oferta melhorada feita pelos europeus dia 29 de setembro. Amorim negou, inclusive, que a UE tenha feito a oferta de liberar de uma só vez a primeira etapa das cotas agrícolas, ao invés de parcela-la em dez anos, como acenou ao Valor o principal negociador europeu para o Sul, Karl Falkenberg.