Título: Banco disputa assessoria de negócios
Autor: Janes Rocha
Fonte: Valor Econômico, 11/10/2004, Finanças, p. C-1

Após dois anos de escassez, a expectativa é de retomada das operações

Os leilões de concessão de linhas de transmissão, realizados pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), estão movimentando a área de financiamento de projetos (ou "project finance") dos bancos grandes e médios, consultorias e seguradoras. Os negócios nessa área servem de preparação para o próximo ano quando, espera-se, haverá uma retomada mais forte das operações de "project finance", depois do período de escassez nos últimos dois anos. Por enquanto, ainda sem um volume expressivo de capital para investimentos de longo prazo no país, os bancos grandes disputam com os bancos de investimentos e as consultorias o filão do serviço de assessoria financeira ("advisor"). Nessa fase, a remuneração é fixa e cobra-se uma "taxa de sucesso" sobre o valor da operação. Mas o que todos estes agentes estão de olho é nos possíveis negócios que se abrem, a partir do contato com os consórcios, na estruturação e financiamento futuros, não só das linhas de transmissão mas também do Programa de Incentivo às Fontes Alternativas (Proinfa), de incentivo à produção adicional de 3,3 mil MW de energia eólica, biomassa e pequenas centrais hidrelétricas (PCH), até 2006 e as novas concessões de rodovias a partir de 2005. A "cereja do bolo" são as Parcerias Público-Privadas (PPP), de projetos prioritários nas áreas de energia, transportes, rodovias e portos, que dependem de aprovação do Congresso Nacional. "As oportunidades surgidas este ano são uma forma de nos posicionarmos para o ano que vem", diz Cristiano Queiroz Belfort, diretor executivo do Bradesco. O banco assessorou o grupo espanhol Elecnor, que venceu a disputa pelo Lote A, no leilão de linhas de transmissão realizado pela Aneel no último dia 30. É a maior linha licitada, com 811 km, ligando Cuiabá (MT) a Itumbiara (GO). "A participação como assessor (no leilão de transmissão) mostra para o mercado que também estamos preparados, com esse produto na prateleira", diz Aldo Luiz Mendes, diretor da área de mercado de capitais do Banco do Brasil Banco de Investimentos (BBBI). O BB assessorou o consórcio Caburé, das empresas Eletrosul (49% do capital), Schahin Engenharia (41%) e a Engevix (10%), que ganhou a concessão para construção da linha de transmissão de energia entre Campos Novos e Blumenau (365 km), no Estado de Santa Catarina - identificado no leilão como Lote K. O banco fez a avaliação econômico-financeira da operação - cálculo dos custos de construção, tributação, receitas - e agora vai estruturar a captação de recursos financeiros que viabilizará a obra.

Na fase de financiamento, posterior à avaliação e assessoria nos leilões, a maior parte dos recursos deverá ser obtida no Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), outros bancos de fomento regionais e instituições multilaterais de crédito, dizem os executivos da área. Porém, algumas fontes novas de recursos estão em fase de montagem e a recuperação do mercado de capitais (de renda fixa e variável) está sendo acompanhada com atenção. Uma das novas fontes é o Fundo de Investimentos em Infra-estrutura do Brasil (BIIF), que deve levantar US$ 500 milhões com investidores institucionais. O BIIF, que está sendo estruturado pelo ABN AMRO, já conta com um participante de peso: o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), que garantiu pelo menos US$ 75 milhões para aplicar em projetos de infra-estrutura através de um empréstimo. Também o Bradesco prepara o lançamento de um novo fundo de investimentos em energia elétrica em parceria com o Pactual. A operação ainda está em fase inicial de estruturação e deve ser anunciado em um mês. As empresas de energia estão à frente nesse primeiro momento, porque "retomaram a capacidade de investimentos, depois da desvalorização do real e do racionamento", explica Paulo Dal Fabbro, diretor de infra-estrutura da PriceWaterhouse Coopers. "O grande desafio", diz Eduardo Serra, superintendente do Unibanco, é "superar a fragilidade dos contratos de compra e venda com a Eletrobrás". Para Serra, as condições estabelecidas pelo governo podem desestimular a entrada dos bancos como financiadores dos projetos. Nada que desanime a instituição, que está assessorando 19 dos 21 projetos de PCH que estão em análise no BNDES.