Título: HSBC está pronto para decolar no Brasil
Autor: Maria Christina
Fonte: Valor Econômico, 11/10/2004, Finanças, p. C-1

Foto: Rogerio Pallatta/ Valor

Stephen Green, CEO da HSBC Holdings: "Estamos com o prato cheio" O principal executivo (CEO) da HSBC Holdings plc, Stephen Green, está convencido de que o banco tem no Brasil a plataforma adequada para decolar. "Podemos ter um crescimento considerável sem fazer nenhuma única nova aquisição", disse Green ao Valor, sexta-feira. O HSBC investiu US$ 2 bilhões em aquisições no Brasil desde 1997. Há exatamente um ano comprou o Lloyds TSB no país, incluindo a Losango, cobiçado braço de financiamento ao consumo, com 15 milhões de clientes. Pouco depois, adquiriu outra financeira, a Valeo, com mais 1,1 milhão. "Estamos com o prato cheio", disse. O banqueiro de 55 anos, pastor anglicano aos domingos, é candidato natural a suceder o chairman John Bond, e esteve no Brasil na semana passada, para uma visita de cinco dias, que incluiu encontros com autoridades em Brasília, como o ministro Palocci, das Finanças, com clientes e a equipe local. Green veio a convite do diretor para a América Latina, Youssef Nasr, este sim aborrecido com a interpretação que teve seu pronunciamento a analistas, em Londres, há duas semanas. "Se uma aquisição aparecer e fizer sentido, estratégica e financeiramente, vamos fazer. Não mudamos nossa posição", ressaltou Nasr. Ao contrário de outros altos executivos que vêm ao país em um pé e voltam no outro, Green aproveitou o final de semana para visitar São Paulo, comer no Mercado Municipal e ir à Bienal. É a quarta vez que visita o país. Como CEO do terceiro maior banco do mundo, presente em 76 países, Green viaja um terço do ano. "O HSBC é o banco global local. Não dá para entender isso sentado em uma torre de marfim em Londres", disse Green que, antes de vir ao Brasil, esteve no México, China e Índia, os quatro mercados emergentes onde o banco quer crescer. Valor: O HSBC é o terceiro maior do mundo em ativos. Mas sua posição ainda é tímida no Brasil. Stephen Green Somos maior aqui do que os outros dois maiores do mundo. Somos o 6 º banco privado do mercado. Temos grandes vantagens competitivas mas, de todos lugares em que operamos, o Brasil é certamente uma exceção. Temos competidores poderosos e respeitáveis no mercado brasileiro, locais e internacionais. Temos uma boa plataforma no Brasil, com uma presença física forte, com a rede do banco e da Losango, e um grande número de clientes. É nosso trabalho garantir que o negócio decole a partir dessa base atrativa. Valor: O banco pretende fazer novas aquisições? Green Aquisição não é o centro da nossa estratégia no Brasil nem em qualquer mercado. Podemos ter um crescimento considerável no Brasil sem fazer nenhuma única nova aquisição. E é nisso que a nossa administração está concentrada. Estamos confiantes de que há um grande potencial de crescimento com a plataforma que possuímos. Investimentos US$ 2 bilhões em aquisições no país desde 1997. Estamos com o prato cheio. Valor: Quais linhas de negócios vai enfatizar no Brasil, em 2005? Green Todas elas. Temos boas oportunidades de crescimento no varejo, financiamento ao consumo e nas operações comerciais com empresas médias e grandes. Valor: Qual o balanço que o senhor faz da visita ao Brasil? Green Estou otimista. A política macroeconômica do governo Lula está criando condições para um crescimento saudável. O ambiente mundial é favorável ao aumento das exportações brasileiras. A economia está com bom desempenho e oferece boas oportunidades. Valor: Em quais áreas? Green Uma delas é o financiamento ao comércio exterior. Praticamente todas as grandes empresas estão empenhadas em exportar para a China. O HSBC pode ajudar. Opera em 76 países, está presente na China desde o século 19 e isso cria oportunidades de negócios. No mercado interno há também bom ambiente para negócios com pequenas e médias empresas e no financiamento ao consumo. Por isso compramos a Losango, há um ano, que nos tornou um dos líderes na área de financiamento ao consumo do mercado. À medida em que a economia cresce, as operações financeiras com empresas e pessoas físicas também aumentam, mais do que a economia em geral. Estamos em posição de contribuir para isso e fazer bons negócios. Valor: Quais sinergias vê entre a Losango e a Household? Green Há práticas a serem comparadas e técnicas a serem compartilhadas. Quando compramos a Household, um dos objetivos era desenvolver o financiamento ao consumo ao redor do mundo, particulamente em mercados emergentes. E o Brasil é uma das maiores prioridades. Valor: O que o senhor espera para a economia mundial em 2005? Green Estamos preocupados com o déficit fiscal e em conta corrente dos Estados Unidos, as incertezas geopolíticas e a alta do petróleo. Mas a expectativa é que a economia vai crescer, embora menos do que neste ano. Em alguns mercados como os Estados Unidos e Reino Unido, o crédito de consumo cresceu muito rápido e deve desacelerar agora. O Japão está na melhor forma dos últimos anos. A eurozona vai bem, com algumas exceções. Valor: E os emergentes? Green Os mercados emergentes estão em uma posição surpreendentemente saudável. Se a situação for comparada com a de 1994, a mudança é dramática. Alguns países ainda têm que administrar as contas externas com cuidado. Mas, muitos trocaram gastos públicos e déficit em conta corrente por um crescimento puxado pelas exportações, o que permite crescer sem prejudicar o equilíbrio do balanço de pagamentos. O Brasil é um bom exemplo disso. Esta é, para mim, a chave para a maior estabilidade e sustentabilidade que o país está experimentando. Entre os mercados emergentes, há quatro em que temos presença significativa, Brasil, China, Índia e México. E Brasil é uma grande oportunidade de crescimento para o banco. Valor: Quais características desses países atraem o banco Green Esses mercados têm uma economia jovem, no sentido demográfico e na participação ainda pequena do setor financeiro no Produto Interno Bruto (PIB). À medida que a economia brasileira cresce, os negócios bancários também aumentam, criando grandes oportunidades, especialmente no financiamento ao consumo e varejo.