Título: Mesmo com inflação comportada, Copom deve voltar a aumentar Selic
Autor: Sergio Lamucci
Fonte: Valor Econômico, 11/10/2004, Finanças, p. C-2

Os índices de preços divulgados na semana passada mostraram que a inflação está bastante comportada, mas não a ponto de os analistas apostarem que o Banco Central (BC) vai interromper a trajetória de alta dos juros iniciada em setembro. As boas notícias no front inflacionário, porém, afastaram a expectativa de um aumento de 0,5 ponto percentual da taxa Selic, cogitada por alguns economistas. Com o resultado favorável de índices como o IPCA de setembro, consolida-se a previsão de que, na semana que vem, o Comitê de Política Monetária (Copom) vai elevar os juros em mais 0,25 ponto, de 16,25% para 16,5% ao ano. O analista Antônio Madeira, da MCM Consultores, ficou bastante satisfeito com os índices divulgados na semana passada. O IPCA de setembro ficou em 0,33%, abaixo dos 0,5% previstos pelo mercado, em boa parte devido à deflação dos alimentos. Ele também ressaltou a queda de alguns dos núcleos do indicador. O calculado pela exclusão de preços administrados e alimentos, por exemplo, recuou de 0,56% em agosto para 0,41% em setembro. "Isso mostra que a inflação não está fora do controle." Mesmo assim, Madeira acredita que o BC vai elevar os juros em 0,25 ponto na semana que vem. A questão, segundo ele, é que o BC dá muito peso ao comportamento das expectativas de inflação do mercado para o ano que vem, que estão em 5,8%, acima da nova meta ajustada, de 5,1%. E, a menos de três meses do fim de 2004, os movimentos dos juros têm impacto sobre os preços e as expectativas de inflação do próximo ano e não deste ano. As previsões para o IPCA de 2004 devem recuar, já que o índice de setembro ficou abaixo do esperado. Na pesquisa divulgada na semana passada pelo BC, o mercado projetava um IPCA de 7,31%. Para 2005, porém, não deve haver alterações, afirma Madeira. Mas, se não vai levar o BC a manter os juros, o bom comportamento da inflação deve pelo menos fazer com que a Selic suba a um ritmo bastante moderado. O economista-sênior do WestLB, Adauto Lima, que previa um aumento de 0,5 ponto da Selic, revisou sua projeção para uma elevação de 0,25 ponto, depois da safra de índices favoráveis da semana passada - a primeira prévia do IGP-M de outubro ficou em 0,05%. Lima considera positivo o recente comportamento da inflação, mas diz que a melhora se deveu em boa parte à deflação de alimentos, o que não deve se repetir. Ele lembra ainda que a alta dos preços do petróleo deve levar a um aumento dos combustíveis, embora ainda não se saiba quando o reajuste vai ocorrer, nem qual será a magnitude. Uma elevação de 10% dos preços da gasolina para o consumidor provoca um impacto de 0,4 ponto percentual no IPCA. Lima prevê um IPCA de 7,3% neste ano e de 45,7% no ano que vem. Até quem não acha necessária uma elevação da Selic acredita que o BC vai aumentar os juros neste mês. É o caso do economista-chefe da consultoria Global Invest, Alex Agostini. Para ele, como não há sinais de pressão de demanda, o BC poderia manter os juros. Agostini lembra que, em agosto, o desemprego subiu e a renda caiu, interrompendo a melhora registrada desde maio. Segundo ele, o problema é que, na reunião anterior do Copom, o BC se comprometeu a continuar aumentando os juros. No comunicado divulgado após o encontro do mês passado, o BC informou que, com a alta da Selic de 16% para 16,25%, começava "um processo de ajuste moderado da taxa básica".