Título: Empresas florestais reivindicam política de fomento para o setor
Autor: Ivana Moreira
Fonte: Valor Econômico, 13/10/2004, Brasil, p. A-2

As empresas de florestas plantadas estão com um novo trunfo na mão para cobrar do governo federal o mesmo tratamento dado aos setores produtivos, com direito a políticas de fomento. Encomendaram uma pesquisa para provar que criaram emprego e renda nas cidades onde se instalaram, contribuindo para a melhora dos Índices de Desenvolvimento Humano (IDH) do municípios. Ligado hoje ao Ministério de Meio Ambiente, o setor florestal alega incompatibilidade com a pasta - encarregada de, ao mesmo tempo, fiscalizar e fomentar a atividade - e vem lutando para ser vinculado à Agricultura ou ao Desenvolvimento. "O setor florestal é alvo de muito mitos, muito folclore", diz o presidente da Associação Mineira de Silvicultura (AMS) e da V&M Floresta, Antônio Claret. Num documento de 18 páginas, a pesquisa sobre evolução do IDH mostra, por exemplo, que o índice de Minas Novas, no Vale do Jequitinhonha, subiu 20,57%, de 0,525 para 0,633, entre 1991 e 2000. Atua no município, desde a década de 70, a Acesita Energética, que planta eucalipto para a produção de carvão que abastece a siderúrgica mineira Acesita, fabricante de aço inoxidável. O crescimento do IDH em Minas Novas é bem maior que o da média estadual, que foi de 10, 9% entre 1991 e 2000, subindo de 0,584 para 0,671. A partir das variáveis de longevidade, educação e renda, o índice é expresso em uma escala que varia de 0,0 a 1,0: quanto mais alto, melhores são as condições de vida da população. Após a chegada da Acesita Energética, Minas Novas ganhou vias asfaltadas, sistemas de comunicação, hospitais e escolas. A empresa é responsável por cerca de 900 empregos diretos e 2 mil indiretos. A pesquisa, encomendada pela AMS, foca especialmente o desenvolvimento de 12 cidades do Vale do Jequitinhonha, uma das regiões mais pobres do Brasil, castigada pelo clima árido e pelas secas. Atraídas por programas de incentivos fiscais ao reflorestamento, muitas empresas do setor instalaram-se na região a partir da década de 70. Nos 12 municípios da pesquisa, o reflorestamento é atividade econômica predominante. O estudo sobre o impacto da atividade florestal na região será apresentado em Belo Horizonte entre 13 e 15 outubro, no Madeira 2004, evento que reunirá especialistas e empresas do setor florestal. As empresas querem sensibilizar o governo para o potencial de crescimento sustentável da atividade. Segundo o presidente da V&M Florestal, o Brasil tem potencial para dobrar os atuais cinco milhões de hectares de área plantadas, criando pelo menos dois milhões de empregos. Claret lembra que o Brasil é o país mais competitivo na atividade, superando a Finlândia, líder no mercado mundial de madeira de eucalipto, com 8% de participação. Enquanto na Finlândia, a média de produtividade é de 5 metros cúbicos de madeira por hectare plantado, no país essa média é de 30 metros. O custo brasileiro de produção está em torno de US$ 12 o metro cúbico. Na Finlândia, fica em US$ 36. Para Claret, o que impede políticas de fomento para a expansão da atividade no país é um patrulhamento ideológico equivocado. "O setor florestal ocupa apenas 5 milhões de hectares, enquanto a agricultura ocupa 600 milhões de hectares e a pecuária, 150 milhões", ressalta ele. No primeiro semestre de 2004, as exportações brasileiras de madeira e derivados cresceram 37,7% em relação ao mesmo período do ano passado. As vendas externas somaram US$ 2,41 bilhões. Os produtos mais vendidos são os compensados, portas e molduras, especialmente para a Europa.