Título: Marinho pede votos para reeleger Lula
Autor: Cristiane Agostine e Cibelle Bouças
Fonte: Valor Econômico, 02/05/2005, Política, p. A8

Diante de 700 mil pessoas, segundo estimativa da Polícia Militar, o presidente da CUT, Luiz Marinho, anunciou publicamente o seu apoio à reeleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva em 2006. "A gente não é doido de falar que está tudo errado no governo e se queremos continuar transformando este país, precisamos continuar com Lula na Presidência", afirmou, em uma festa onde o governismo foi a nota predominante. A CUT recebeu em seu palanque o ministro do Trabalho, Ricardo Berzoini, e o da Casa Civil, José Dirceu e aplaudiu o aumento do salário mínimo de R$ 260 para R$ 300, que vigora a partir de hoje. Sem vaias, Berzoini citou que 2,5 milhões de empregos foram criados desde que Lula assumiu a Presidência e disse que o novo valor era uma prova de que "o governo tem compromisso com a classe trabalhadora". No ano passado, o aumento do salário mínimo, de R$ 240 para R$ 260 jogou um banho de água fria nas centrais sindicais. O desgaste político- que teve seu auge na rejeição pelo Senado da medida provisória que fixou o valor - fez com que o governo mudasse a estratégia. No fim do ano passado, o governo federal anunciou um aumento acima da inflação e permitiu que as centrais sindicais aparecessem como vencedoras na negociação. O resultado ontem foi Marinho subir ao palanque para pela primeira vez na história da central afirmar que o valor era o melhor possível. "Muitos acham que não temos motivos para comemorar, mas tivemos o maior reajuste salarial dos últimos anos. Tenho certeza com esta vitória poderemos avançar na construção de uma política de recuperação do salário mínimo", afirmou. Apesar do pessimismo, a reforma sindical foi a bandeira de luta dos sindicalistas da Central Única dos Trabalhadores. "Precisamos de uma estrutura sindical que não permita um bando de oportunistas, como tem no Brasil inteiro, se aproveitando da atual estrutura sindical em prejuízo da classe trabalhadora", disse Marinho. No palanque, o ministro do Trabalho, Ricardo Berzoini limitou-se a elogiar a proposta. "É uma reforma boa para o país, mas deve ser feita através do diálogo, vamos dialogar para encontrar uma reforma sindical que livre o brasileiro do imposto sindical, da unicidade autoritária e obrigatória e que dê sindicatos mais transparentes e mais democráticos para todo o nosso povo", disse. Na manifestação da Força Sindical, na zona norte da cidade, o palanque era monopólio de oposicionistas ou políticos independentes do Planalto. Mas a platéia vaiou, de maneira intensa, o principal convidado da festa, o presidente da Câmara, Severino Cavalcanti (PP-PE). O público era quase o dobro do reunido pelos governistas na Avenida Paulista: segundo estimativas da Polícia Militar, em torno de 1,2 milhão de pessoas participaram do evento. Apresentado por Paulo Pereira da Silva, presidente da Força Sindical, Cavalcanti foi vaiado pelo público antes de pegar o microfone. Em seu discurso, Cavalcanti centrou críticas à Medida Provisória 242, que altera as regras para concessão de auxílio-doença, auxílio-acidente, aposentadoria por invalidez e salário-maternidade e pediu apoio para brigar na Câmara contra a medida. A organização do evento colocou jingles interrompendo o discurso para tentar abafar a vaia do público. Ao sair do palco, Severino disse que só ouviu aplausos. "Se alguém foi vaiado, esse alguém foi o governo", afirmou. O presidente da Força Sindical, Paulo Pereira da Silva, contemporizou. "Tem um pessoal que vem exclusivamente para ver os artistas. Foram pequenas vaias que acabaram contaminando o público", disse. Durante o evento, representantes da oposição ao governo Lula, como o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), o presidente do PPS, deputado Roberto Freire (PE), o presidente do PDT, Carlos Lupi, e o vice-prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab (PFL), criticaram o novo salário mínimo, as altas taxas de juros, os níveis de desemprego e as medidas provisórias 232 e 242.