Título: CTC pesquisa uso medicinal da cera da cana-de-açúcar
Autor: Mônica Scaramuzzo
Fonte: Valor Econômico, 02/05/2005, Agronegócios, p. B15

O Centro de Pesquisa Canavieira (CTC), que pertencia à Copersucar, está debruçado em estudos sobre as propriedades farmacológicas existentes na cera que se acumula na parte externa da cana-de-açúcar. "Esta cera é natural e funciona como uma película que protege a cana, mas hoje não é aproveitada no processo industrial das usinas", explica Carlos Eduardo Vaz Rossel, especialista em tecnologia industrial do Centro. Segundo Rossel, essa cera contém esteróis, que são moléculas com propriedades farmacológicas e que agem no metabolismo. Entre outras propriedades, afirma, essas moléculas reduzem o colesterol, aumentam a atividade cardíaca e funcionam como estimulante sexual em casos de disfunção erétil. As pesquisas do CTC concentram-se na extração desta cera durante o processamento da cana para a produção de açúcar e álcool. A tecnologia permite extrair o elemento com o uso de solventes. Durante este mesmo processo, a cera é purificada, recuperando as características originais. Segundo Rossel, a cera fica acumulada na parte externa da cana, concentrada na base da matéria-prima. Mas é possível recuperá-la nos colmos da cana (pedaços já cortados). Na década de 70, alguns países já utilizavam a cera em sua forma bruta nas indústrias químicas. "Com o advento da petroquímica, esse processo foi descartado. Hoje, com a maior preocupação em se usar matérias-primas renováveis, o assunto voltou a gerar interesse", diz Rossel. Segundo ele, Cuba também já fez pesquisas sobre as propriedades medicinais desta cera. Atualmente, não há nada que garanta a viabilidade econômica e o aproveitamento em larga escala do produto para industrialização. A cera da cana também chegou a ser cogitada para servir como película de proteção de frutas que são embarcadas para longa distância. "Ela pode servir como uma barreira para reter a umidade das frutas. Sem falar que é um produto natural e pode substituir as substâncias químicas com estas mesmas propriedades", afirma. Segundo Rossel, o CTC está conversando com universidades e com institutos de pesquisas, como Instituto de Tecnologia de Alimentos (Ital), para criar parcerias para ampliar as pesquisas. O pesquisador diz que há interesse de indústrias farmacêuticas neste processo, mas que ainda não existe discussão em curso porque a prioridade é as parcerias com universidades. Rossel afirma que está debruçado nesses estudos há cinco anos. Neste período, o CTC gastou em torno de R$ 600 mil considerando horas trabalhadas dos pesquisadores. "Mas ainda estamos na fase preliminar deste trabalho." De acordo com o pesquisador, os estudos do CTC estão concentrados na comprovação da viabilidade econômica da extração da cera para explorar o produto industrialmente, como ocorre hoje com o açúcar, álcool e também agora com o bagaço da cana para o aproveitamento energético. "É uma oportunidade de ampliar a oferta e diversificar a produção da cana." Esses estudos devem levar de três a cinco anos para serem concluídos, de acordo com o pesquisador. Rossel também observa que com a nova atribuição da cana o setor poderá reduzir as queimadas, prática que vem sendo proibida no país. Hoje cerca de 30% da cana colhida em São Paulo, maior produtor do país, é mecanizada, segundo o deputado estadual Arnaldo Jardim (PPS/SP).