Título: Decisão do CMN de aumentar recursos desagrada bancos
Autor: Janes Rocha
Fonte: Valor Econômico, 02/05/2005, Finanças, p. C3

Os bancos não gostaram da decisão do Conselho Monetário Nacional (CMN) de elevar de 30% para 45% o índice de crescimento do volume de recursos destinados ao financiamento imobiliário para o segundo trimestre de 2005 em relação a 2004. Décio Tenerello, presidente da Associação Brasileira das Entidades de Crédito Imobiliário e Poupança (Abecip), disse sexta-feira que ficou "negativamente surpreso" com a decisão. Apesar da liberação de recursos no primeiro trimestre ter atingido o dobro do esperado, os bancos sustentam que não há produção de imóveis suficiente para justificar a liberação de mais recursos. Por força da Resolução 3177 do Banco Central, os bancos deveriam liberar, em 2005, perto de R$ 12 bilhões em empréstimos, contra R$ 3 bilhões em 2004. A Resolução se refere a um acordo fechado no ano 2000 entre os próprios bancos e o BC para liberar, em parcelas de 1%, o saldo do Fundo de Compensação das Variações Salariais (FCVS) acumulado, após uma renegociação realizada em 1996. Essa resolução foi alterada em 2004, elevando as parcelas de 1% para 2%. Em janeiro passado, as instituições fecharam um acordo com a Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CIBC), que posteriormente foi submetido ao Ministério da Fazenda, em que se comprometiam com um programa de liberação dos recursos e incentivo ao crédito. Pelo acordo, no primeiro trimestre do ano seriam liberados cerca de R$ 730 milhões, o equivalente a 30% acima do que foi liberado no primeiro trimestre de 2004 (R$ 560 milhões). Mas o percentual poderia ser revisto para cima, caso a demanda superasse aquele valor. Superou: nos primeiros três meses do ano, os bancos acabaram repassando R$ 909 milhões em financiamentos, 62% acima do mesmo período do ano passado. Segundo informações do Sindicato da Habitação (Secovi), do total liberado, R$ 466 milhões foram para as construtoras, R$ 246 milhões para os compradores de imóveis novos e R$ 196 milhões para imóveis usados. Diante desse resultado, o CMN decidiu ampliar o percentual para 45% para o segundo trimestre, 15 pontos percentuais acima do previsto pela Abecip, o que equivale a R$ 1,17 bilhão. Décio Tenerello defende que sejam mantidos os 30%, que representariam R$ 230 milhões acima dos R$ 770 milhões liberados no segundo trimestre de 2004. "Não há necessidade de impor um número maior do que o sugerido pelas partes mais interessadas no acordo", afirmou o presidente da Abecip. Ele disse ainda que estava no aguardo da publicação da Resolução do CMN para entender que cálculos o conselho fez para chegar aos 45%. A indústria da construção comemora os novos recursos. Romeu Chap Chap, presidente do Secovi, disse que nunca viu tanto dinheiro em oferta para o setor em 45 anos que atua no mercado imobiliário. "Começamos a enxergar uma luz no fim do túnel", disse Chap Chap. Segundo ele, um grande banco que opera com consórcio de imóveis, tem mantido reuniões com representantes das construtoras para pedir que eles invistam em novas unidades, porque as vendas de cotas estão superando todas as expectativas. "O dinheiro surgiu em abundância e não tem produção para tanto", diz o presidente do Secovi, concordando com a posição da Abecip. O acordo fechado em janeiro previa também um alívio no compulsório dos bancos que operam poupança, desde que eles reduzissem taxas para financiamentos de imóveis abaixo de R$ 150 mil. Até agora, só dois bancos apresentaram planos para essa faixa de valor de imóvel.