Título: Máquinas e insumos para construção elevam investimento
Autor: Vera Saavedra Durão
Fonte: Valor Econômico, 13/10/2004, Brasil, p. A-5

O bom desempenho do setor de bens de capital e a retomada da construção civil - confirmados pela pesquisa de produção industrial de agosto, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), divulgada segunda-feira -, puxaram para cima o nível de investimento fixo da economia. Ele teve expansão de 9,8% no acumulado do ano, conforme cálculo do economista Fernando Montero, da corretora Convenção S/A. No conjunto, a produção industrial cresceu 1,1% sobre julho e 13,1% sobre agosto de 2003. O desempenho da formação bruta de capital fixo (FBCF), equação que mede o investimento, foi sustentado por um aumento de 16,1% no consumo aparente de máquinas e equipamentos (produção mais importação menos exportação) e por uma expansão inesperada de 5,8% nos insumos para a construção civil nos oito primeiros meses de 2004. Os números confirmam as estatísticas do Produto Interno Bruto (PIB) que apontou crescimento do investimento de 6,8% até junho. Na comparação com julho, o investimento cresceu 5% em agosto e no trimestre junho-agosto ante o trimestre anterior, teve expansão de 3%. "Estes números informam que o investimento está retomando o nível alcançado entre o segundo semestre de 2001 e o primeiro de 2002, antes da crise de 2002/2003, quando o produto real estava apresentando expansão na faixa de 2,5%", observa Montero. Segundo ele, este aumento do investimento não segura uma economia crescendo forte, acima de 1% ao mês, como revela a pesquisa do IBGE. Pelos seus cálculos se a produção industrial e a construção civil reproduzirem até dezembro os mesmos índices de crescimento de agosto pode-se desde já trabalhar com uma taxa de crescimento do PIB entre 4,7% a 4,8% em 2004, razão pela qual é importante o investimento continuar se expandindo. O Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas (Ipea) trabalha com uma taxa de investimento este ano na faixa de 19% a 20% do PIB. Para Paulo Levy, diretor da instituição, tais percentuais são fracos para bancar taxas do PIB de 5% ao ano nos próximos cinco anos. "Esta participação no PIB precisa aumentar para 24%", diz Levy. O diretor do Ipea encarou com naturalidade o fato do Ipea ter errado na projeção da produção de agosto. A instituição estimou que o indicador cairia em 1,1% ante julho. "É melhor errar para baixo, do que para cima", observou. A produção física da indústria subiu 1,1% em agosto ante julho, acumulando 8,8% no ano e 6,5% em 12 meses. Esta performance foi puxada pelos setores de bens duráveis, ancorado no crédito, e de bens de capital. Na avaliação de Montero, ela deu razão ao Banco Central que afrontou o mercado, apostando na continuidade do crescimento econômico, e venceu. "Os dados de agosto trazem bons sinais, mas não para o juro", alertou o economista da Convenção. A seu ver, a confirmação do crescimento robusto da atividade econômica servirá de argumento para o Copom defender mais uma alta da taxa Selic na reunião da próxima semana, apesar do recuo dos índices de inflação. O comportamento da política monetária tem um alvo certo: desacelerar o ritmo de crescimento. Montero e Levy trabalham com um mesmo cenário: a desaceleração vai acontecer mais cedo ou mais tarde, pois não dá para sustentar o robusto ritmo atual. Paulo Levy contabilizou que a indústria cresceu 1,4% ao mês na média de março a junho. Esta taxa anualizada dá um crescimento de 17,7%. "Ao ano, é um ritmo muito forte". Montero acredita que a indústria deva desacelerar para taxas mensais de 0,5% a 0,7% o que indica uma taxa de 7% ao ano. "Resta saber se este é o quanto, e quando e como isto vai acontecer".