Título: Lucro deve crescer de 20% a 30%
Autor: Maria Christina Carvalho
Fonte: Valor Econômico, 02/05/2005, Finanças, p. C8

Os analistas estão otimistas com os resultados do primeiro trimestre que bancos brasileiros começam a divulgar nesta semana. O Itaú puxa a fila amanhã; Bradesco e Unibanco mostram os números na próxima semana; e o Banco do Brasil (BB), na semana seguinte. Juros em alta e crédito em expansão compõem o cenário otimista - "o melhor dos mundos" para os bancos, segundo o analista Bruno Pereira, do UBS. A expectativa é que o lucro dos bancos seja de 20% a 30% superior ao do primeiro trimestre de 2004 e não muito diferentes do resultado do quatro trimestre, normalmente o melhor de todo o ano. As taxas de curto prazo subiram no primeiro trimestre para a média de 18,5%, quase 200 pontos acima do primeiro trimestre de 2004, calculou o UBS, alimentando a margem financeira. O analista Paul Tucker, da Merrill Lynch, concordou com a avaliação em relatório enviado a clientes. Embora esperem a queda da taxa básica (Selic) a partir do segundo semestre, os analistas do Unibanco estimam que o juro médio deste ano será superior ao de 2004 (16,2%). Por isso, sustentam, os resultados dos bancos serão melhores do que em 2004, quando a margem financeira menor teve que ser compensada pela receita de serviços, previdência e redução das provisões. Os analistas já começam a se preocupar, porém, com o impacto dos juros altos na qualidade do crédito, na exigência de reforço das provisões; e na demanda. A recuperação da economia e o aumento do emprego e da renda reduziram a inadimplência no ano passado, permitindo a diminuição das provisões para crédito e ajudando a engordar os resultados dos bancos. O fluxo de caixa das empresas melhorou, abrindo espaço a reestruturação de dívidas. O desenvolvimento de sistemas de análise de risco de crédito e a estrutura legal, que estimulou o florescimento do crédito com desconto em folha, colaboraram na mesma direção. Segundo dados do Banco Central (BC), a inadimplência abriu 2004 em 8% da carteira de crédito, chegando a 14% para as pessoas físicas, e fechou o ano em 6,9% (12% nas pessoas físicas). Com isso, as provisões foram reduzidas. A relação entre provisões e o crédito, segundo o UBS, diminuiu em todos grandes bancos. No Bradesco, caiu de 5,9% em 2002 para 4,7% em 2003 e 3,5% em 2004; no Itaú, saiu de 7,5% para 5,7% e 3,7% no mesmo espaço de tempo; no Unibanco, de 7% para 5,3% e 4,4%; e no BB, de 5,1% para 4,4% e para 4,2%. Os números começam a mudar um pouco, colocando os analistas em alerta. A inadimplência cresceu no início do ano, como acontece sazonalmente, para 7,4% em janeiro, 7,5% em fevereiro, com 12,4% na pessoa física. Mas, a trajetória de alta continuou, com 7,6% em março (12,7% na pessoa física). Para Pereira, isso pode significar menos espaço para cortar provisões. Além disso, acrescentou, "qual o nível de provisões necessário depois de 12 a 18 meses de crescimento contínuo do crédito". Há ainda a questão da própria continuidade da expansão das carteiras. Os dados mais recentes do BC mostram que as concessões de novos créditos caíram em março, 5,7% no caso das empresas e 4,9% nas operações com pessoas físicas. Tucker lembra que o balanço do Bradesco deve ter impacto da venda da maior parte da participação do banco na Belgo Mineira, mesmo que parte do ganho de R$ 300 milhões seja canalizada para a amortização de ágio. Há ainda curiosidade com os primeiros resultados da série de acordos de cessão de crédito consignado e os feitos com varejistas como a Casas Bahia. Os analistas do Unibanco esperam bons frutos do esforço de redução de despesas com a racionalização da rede (500 agências foram fechadas em 2004). Mesmo com a amortização do ágio de R$ 200 milhões pago à Lojas Americanas pela associação em financeira, o Itaú, segundo a Merrill Lynch, deve exibir resultados sólidos com o crescimento da área de cartão de crédito com o aumento da participação na Credicard. Mas as provisões devem aumentar com a expansão do financiamento ao consumo da sua financeira (Taií) e da parceria com o Pão de Açúcar, além da Credicard e Lojas Americanas. Já há três quiosques do Itaú em lojas do Pão de Açúcar, informaram analistas do Unibanco e serão 250 até o final do ano. No mesmo prazo, serão abertos 150 pontos da financeira com a Lojas Americanas e 150 da Taií. O aumento da base de clientes ajudará no cumprimento da meta de elevar 15% a receita de serviços. O Unibanco, diz o UBS, mostrará melhor como ficam os resultados após a venda da Credicard. A Merrill Lynch espera também resultados mais concretos da reestruturação do banco, mas lembra que os custos de captação mais elevados absorve parte dos ganhos com a expansão do crédito de varejo. O crédito também deverá ser o foco de crescimento do BB, que quer ampliar a carteira em 20% neste ano, sendo 27% no varejo, 15% no crédito rural e 20% entre as grandes empresas, lembrou o Unibanco. No crédito consignado, o alvo são os 5,6 milhões de clientes que recebem benefícios do INSS pelo banco.