Título: Maluf adia anúncio de voto no 2º turno depois de ir à Polícia Federal
Autor: Jamil Nakad Junior
Fonte: Valor Econômico, 13/10/2004, Política, p. A-6

O ex-prefeito Paulo Maluf (PP) adiou mais uma vez tomar uma posição sobre o seu apoio a um dos dois candidatos que disputam o segundo turno em São Paulo: Marta Suplicy (PT) ou José Serra (PSDB). Maluf reuniu-se ontem com a maioria dos integrantes da Executiva Nacional do PP em sua casa em São Paulo. Depois de um almoço, o presidente nacional da sigla, deputado Pedro Correa (PP-PE), reforçou que fora à casa de Maluf para que o ex-prefeito seguisse a recomendação de apoiar a "candidata do presidente Lula, Marta Suplicy". Horas antes, Maluf fora à Polícia Federal prestar depoimento em um inquérito que o investiga sobre acusações de lavagem de dinheiro, evasão de divisas, formação de quadrilha, peculato (desvio de dinheiro público) e sonegação fiscal. Na porta de sua casa, Maluf ouviu as declarações de Correa e preferiu ler uma nota escrita de próprio punho. "Se alguma instituição deseja fazer uso eleitoral deste episódio (ida à PF) para favorecer algum candidato, comigo vai quebrar a cara. Ninguém jamais me intimidou ou vai me intimidar. Ninguém vai calar a minha voz quando se trata de defender São Paulo", diz a nota lida pelo próprio ex-prefeito. Maluf disse ainda que iria se reunir com os companheiros de partido e que "no momento certo" tomaria a posição que melhor convier à cidade de São Paulo. "O processo eleitoral termina no dia 31 de outubro, entretanto, de maneira espontânea, por minha livre iniciativa, compareci hoje para prestar depoimento sobre nenhum fato, porque o único fato é que eu moro na mesma casa há 40 anos e nos 37 anos de vida pública não tive jamais uma condenação penal", disse o ex-prefeito. Maluf não quis responder às perguntas da imprensa e, ao ser questionado, repetia partes da nota que acabara de ler. O deputado Nelson Meurer (PP-PR), que também estava no almoço com Maluf, aos gritos dizia que não havia indiciamento da Polícia Federal contra Maluf. Depois em entrevista, disse que as mesmas histórias eram escritas na imprensa há mais de 15 anos. "Estou dizendo que há mais de 15 anos vocês estão colocando na mídia nacional invenções. Por que não abre o processo contra Maluf? Toda vez, na época da eleição, vocês acusam para denegrir a imagem do Maluf. Por que os promotores não apresentam para o juiz? Por que não apresentam a denúncia?" A PF indiciou Maluf e seu filho Flávio, determinado pelo delegado Protógenes Queiroz, da PF de Brasília. O procurador da República Pedro Barbosa Pereira Neto, que participa das investigações, disse que outros familiares de Maluf serão ouvidos. Meurer ainda inferiu a participação de políticos por trás da imprensa para que ela fosse atrás dessas investigações. "Se eles têm esses documentos da Suíça que apresentem ao juiz para ele analisar se denuncia ou não denuncia. Agora quando saiu aquela onda das ilhas Cayman de outros políticos que vocês apóiam, aí acharam que foi fraude e ficaram quietos. Vocês têm que aprender a respeitar as pessoas e não ser joguete político de políticos incompetentes", disse o deputado paranaense. "Há quatro anos quando Serra e os tucanos apoiaram Marta vocês não foram atrás. Aí acharam justo apoiar a Marta. Hoje que a Executiva Nacional está pedindo que Maluf tome as decisões vocês acham estranho", completou Meurer. O vereador eleito Agnaldo Timóteo, o mais votado no PP, comentou ao sair da casa de Maluf que os "tucanos já se consideram eleitos" e que os vereadores do partido não tinham sido procurados. "Ninguém nos procurou. Ninguém deu bola pra gente... Vamos ver se descem do pedestal". (Com agências noticiosas)