Título: GM vai duplicar sua produção na China
Autor: Marli Olmos
Fonte: Valor Econômico, 13/10/2004, Empresas, p. B-5

Com 10% do mercado local, montadora vai investir US$ 3 bilhões para fabricar 1,3 milhão de carros

A General Motors, maior montadora do mundo, vai duplicar a capacidade de produção na China, economia que mais cresce no mundo, atingindo 1,3 milhão de veículos por ano - volume pouco abaixo do Brasil em 2003. O plano faz parte de um programa de investimentos que totalizará US$ 3 bilhões em três anos. Isso inclui ampliação das fábricas existentes e aquisição de novas unidades, disse o principal executivo da companhia na China, Phil Murtaugh. Segundo Murtaugh, a subsidiária chinesa da GM poderá incluir o Brasil em sua estratégia de fazer acordos com o objetivo de obter proveito de experiências de outras subsidiárias da companhia. A declaração indica que a empresa poderá reforçar a produção de linha de carros mais simples para o mercado chinês. Hoje, boa parte da linha de produção do grupo General Motors na China está voltada para as classes de maior poder aquisitivo, que podem gastar mais de US$ 30 mil num automóvel. É o caso de sedãs da marca Buick, já produzidos em Xangai, e os luxuosos da marca Cadillac, que em breve também estarão naquele mercado. As duas marcas são consideradas top de linha nos Estados Unidos. Mas a GM também produz o Corsa em grandes volumes para o mercado chinês. Esse veículo é feito com componentes importados da GM do Brasil. A China representa hoje um dos principais destinos de exportação para a GM do Brasil. Com embarques que começaram no início dessa década, o contrato que a China fechou com o Brasil prevê a importação em torno de US$ 1 bilhão, em componentes, ao longo de 10 anos. No segundo lugar no mercado chinês, a GM passou de uma venda anual de 60 mil veículos no país em 2001 para 360 mil no ano passado. Por meio de sete joint ventures com empresas locais e mais duas operações sem parceria, a atual capacidade de produção da montadora chega a 650 mil unidades ao ano. Com o plano de ampliação, a capacidade total passará para 1,3 milhão. "O mercado chinês já superou o da Alemanha, tudo indica que em poucos anos vai passar à frente do japonês (que hoje ocupa o segundo lugar) e alguns já apostam que poderá ultrapassar o dos Estados Unidos", destaca Murtaugh. O mercado norte-americano, o maior do mundo, beira a 17 milhões de veículos. A venda anual de veículos na China deverá chegar a 5,1 milhões neste ano, 13,3 % do que em 2003. De janeiro a agosto, os chineses compraram 3,394 milhões de veículos. Com cerca de 10% desse mercado, a GM vendeu 316,4 mil unidades. A Volkswagen tem a liderança. Mas a China já é para o grupo General Motors um mercado mais importante do que qualquer outro, exceto o americano, onde a marca vendeu 3,161 milhão de unidades de janeiro a agosto. No mesmo período, o mercado brasileiro de veículos totalizou 987,4 mil unidades. E a GM vendeu 226 mil. "A China vai ajudar a GM a continuar na liderança do mercado mundial", diz Murtaugh. A direção da GM anunciou nesta semana, em Xangai, uma aliança com a Shangai Automotive Industry Corporation Group (SAIC), sua principal parceira no país, para explorar o setor de financiamento de veículos. O campo é vasto. Segundo Murtaugh, hoje apenas 5% das vendas de carros na China são feitas por meio de financiamento. "É possível chegar a mais de 80%, a média internacional", afirma o executivo. A General Motors possui hoje em Xangai - também num sistema de parceria - um os seus seis centros de desenvolvimento tecnológico do mundo. A exemplo do Brasil, onde existe uma dessas unidades, a idéia é começar a fabricar carros voltados ao gosto do consumidor chinês. Segundo os técnicos da companhia, trata-se de um consumidor bastante exigente. Com alto grau de modernização e sofisticação, o centro de desenvolvimento da GM em Xangai conta com um time de 775 engenheiros, que já trabalham no desenvolvimento de protótipos de carros chineses para o futuro próximo. Murtaugh elogia a estratégia do governo chinês de se preocupar em conter excessos no crescimento econômico do país. "Eles levam absolutamente a sério a questão da segurança em relação ao uso de energia como o petróleo", destaca o executivo. Murtaugh lembra a preocupação em relação ao aumento das importações de petróleo. Segundo ele, é preciso garantir um crescimento sustentável sem, no entanto, deixar de levar em conta a segurança econômica do país e outras questões que isso envolve, como a poluição em centros como Xangai.