Título: Acordo entre Mercosul e União Européia ainda patina
Autor: Sergio Leo
Fonte: Valor Econômico, 02/05/2005, RUMOS DA ECONOMIA, p. F18

O acordo de livre comércio Mercosul-União Européia dificilmente será concluído este ano, apesar da boa vontade anunciada pelo presidente Lula e o presidente da Comissão Européia, José Durão Barroso, admitem negociadores dos dois blocos. No encontro Lula-Barroso em Davos (Suíça), no começo do ano, o comissário europeu de comércio, Peter Mandelson, destacou a importância de acelerar a negociação bilateral, já que, segundo ele, ninguém sabe quando terminará a Rodada Doha na Organização Mundial do Comércio (OMC), se em um, dois, dez anos ou até mesmo se será concluída. O problema é que os dois blocos não conseguem se entender nem sobre a base para retomar a negociação, depois do fiasco de outubro em Lisboa quando o acordo não pôde ser concluído. Há desconfiança nos dois lados sobre as reais intenções liberalizadoras. Para certos negociadores do Mercosul, atualmente interessa mais à União Européia um acordo rápido, porque alavancaria a posição européia na OMC. Ou seja, o acordo regional envolvendo a liberalização basicamente por meio de cotas, além de limitado, teria influência negativa nos outros dois pilares da negociação agrícola global - subsídios à exportação e apoio doméstico (subsídios à produção e comercialização). Daí por que alguns negociadores do Mercosul recomendarem prudência. Eles acham que deve prevalecer paralelismo com a negociação da OMC. As duas negociações se complementariam, em vez de uma (birregional) ser usada pelos europeus para ter vantagem sobre a outra (a Rodada Doha). Já o agronegócio brasileiro está impaciente. Calcula poder ganhar mais US$ 2 bilhões em exportações por ano, apesar das limitações européias. O problema é que o tipo de concessão que o Brasil obtiver só vai servir para o agronegócio, provavelmente por algum tempo, e todos os outros setores pagariam por isso, diz um negociador. Em Bruxelas, certos analistas dizem não entender a estratégia negociadora do Brasil. Além disso, há uma decepção dentro da Comissão Européia com a paralisação na integração do Mercosul. "Estamos negociando com países ou com um bloco sério?", questiona um negociador. Alguns setores começam a sugerir que seja revista toda a estratégia de negociação com o Mercosul. O argumento é de que a negociação foi lançada há dez anos (birregional), quando a situação econômica, os governos e posição de China e Índia eram outras.