Título: Mercado prevê outro ano de lucros gordos para as S.A
Autor: Carolina Mandl, Talita Moreira, André Vieira
Fonte: Valor Econômico, 02/05/2005, RUMOS DA ECONOMIA, p. F18

Os lucros das empresas brasileiras devem voltar a crescer em 2005, prolongando a boa maré que se viu no ano passado. Com os preços das commodities no topo e a demanda aquecida, setores ligados a exportações prometem bons resultados, segundo analistas ouvidos pelo Valor. Mudanças na cena mundial, porém, podem significar que a festa deste ano pode não se estender até 2006. O ciclo de alta das matérias-primas, que tem sustentado o crescimento, está chegando ao fim. Projeções feitas por grandes bancos indicam que a safra de balanços de 2005 no Brasil trará lucros maiores que os do ano passado - quando o resultado das companhias de capital aberto já aumentou mais de 50%. "As exportações têm sido uma surpresa positiva. Até agora, mesmo com o câmbio apreciado, não houve impacto e isso vai demorar para acontecer", afirma David Beker, economista da Merrill Lynch. Liderada pela China, a demanda global continua aquecida, o que favorece as empresas que atuam no mercado externo. Nos segmentos de consumo, o aumento da oferta de crédito compensa o aperto da política monetária no país. O lucro das companhias brasileiras de capital aberto deverá crescer nominalmente entre 25% e 30% neste ano, em comparação com o último exercício fiscal, segundo estimativa do Banco Pactual. De acordo com o chefe da área de pesquisa do banco, Ricardo Kobayashi, o aumento do preço médio das commodities e o endividamento menor das empresas alimentarão resultados melhores. A relação entre a dívida e os patrimônio líquido das empresas caiu de 96% em 2003 para 86% no ano passado, segundo a Economática. Para o Santander, as empresas listadas no Ibovespa terão crescimento ainda maior no lucro, de 48%. A maior contribuição para esse resultado deverá vir dos setores de mineração e siderurgia. "Esse crescimento virá do aumento dos volumes vendidos e pelo crescimento do preço das commodities", avalia André Loes, economista-chefe do Santander. A Vale do Rio Doce, que reajustou neste ano o preço do minério de ferro em mais de 70%, prevê que a demanda pela matéria-prima continuará forte até 2007 e que os preços estarão em alta até o ano que vem. O ciclo de baixa só é esperado pela companhia a partir de 2008. A questão é saber se as siderúrgicas terão fôlego para repassar o aumento de custo aos preços de seus produtos ao longo desses anos. O cenário de alta não é muito diferente para os demais setores ligados a commodities. A petroquímica vem acompanhando a tendência mundial, onde a demanda supera com folga a oferta, uma situação que, segundo estimativas de analistas, deve continuar até 2007. Alguns estimam que poderá alcançar 2008. Nem o real valorizado tem afetado as exportações dos grandes produtores petroquímicos. "Nossos custos são em sua maioria dolarizados", diz o presidente da Braskem, José Carlos Grubisich. O preço da celulose, que atingiu em abril a maior cotação desde 2001, deve se sustentar até o fim do ano, na previsão de analistas. Eles imaginam que a oferta adicional com a entrada em operação da Veracel não afetará o mercado. Por outro lado, poderá até se reduzir, uma vez que a chilena Celulosa Arauco y Constitución (Celco), ligada ao grupo Angelini, um dos maiores daquele país, foi obrigada a interromper a produção de uma grande unidade. Luiz Cavallari, da Fator Corretora, prevê uma queda gradual do preço da celulose a partir de 2006, de cerca de 5%. "A volatilidade nesse setor será menor porque houve o fechamento de diversas empresas menos competitivas." "Estamos otimistas com o ano", disse Rogério Ziviani, diretor de negócios internacionais da Suzano Bahia Sul Papel e Celulose a analistas. Só não se sabe até quando este cenário favorável de demanda e de preços continuará para as companhias. "O céu está azul, mas as nuvens estão começando a aparecer", afirma Marcelo Mesquita, estrategista do banco UBS. Ele afirma que os exportadores ainda estão vivendo um momento muito bom, mas é possível que o preço das commodities comece a cair. "Por isso o Brasil deveria acelerar o dever de casa, fazendo as reformas estruturais necessárias, para compensar essa desaceleração internacional." Após dois anos de altas exuberantes, as cotações das principais commodities metálicas deverão observar um período de acomodação - ou mesmo de queda - entre 2005 e 2006. Os principais fatores que devem empurrar, mesmo que lentamente, os preços para baixo são a queda da demanda mundial, a maturação de investimentos de expansão de capacidade das empresas e o crescimento mais lento da economia mundial. De acordo com levantamento da London Metal Exchange (LME), principal bolsa global de negociação de metais e do Standard Bank London, alguns negócios futuros já indicam forte tendência de baixa. É o caso do cobre, cujas estimativas mostram preços próximos de US$ 2,64 mil por tonelada, no final de 2005, e de US$ 2,31 mil no ano seguinte. Bem longe, portanto, dos níveis atingidos entre março e abril, quando a commodity chegou na casa dos US$ 3,4 mil. O câmbio também pode começar a pressionar a margem das exportadoras. Embora os resultados do primeiro trimestre mostrem que as indústrias brasileiras de celulose refizeram estoques diante de um real valorizado que corroeu parte dos ganhos com exportação, a expectativa é pelo menos manter o volume de exportações, mas com os ganhos afetados pela moeda. "Não prevejo uma reação notável no câmbio", disse o presidente da Votorantim Celulose e Papel (VCP), José Luciano Penido. Com o petróleo, o receio é que o feitiço acabe virando contra o feiticeiro. "A elevação do preço do petróleo pode acabar freando o crescimento da economia mundial", afirma José Cataldo, chefe de análise da ABN Amro Real corretora. Além disso, apesar de o consumo interno ainda estar em alta, a alta da taxa de juros pode começar a frear os gastos e investimentos.