Título: Petróleo tende a continuar pressionado
Autor: Francisco Góes
Fonte: Valor Econômico, 02/05/2005, RUMOS DA ECONOMIA, p. F20

Os preços do petróleo tendem a permanecer em níveis elevados por mais um bom tempo, segundo opinião de analistas. A produção mundial de petróleo está muito próxima da demanda, o que contribui para pressionar e provocar forte volatilidade nas cotações do produto. Também pesam nesse cenário as dificuldades de aumento da oferta em função da demora na realização de investimentos exploratórios nos dois últimos anos. Assim, seria necessária uma redução da demanda para que os preços cedessem. E a queda se relaciona a uma rápida desaceleração ou até recessão na economia mundial. Por enquanto, porém, os sinais são de uma suave e previsível desaceleração da economia global, segundo estimativas privadas e do Fundo Monetário Internacional (FMI). O Brasil e a Petrobras, estatal que responde por cerca de 96% da produção de petróleo nacional, parecem estar bem posicionados frente a esse quadro de pressão crescente na indústria mundial do petróleo. Em 2005, a Petrobras deverá produzir 1,7 milhão de barris/dia, com crescimento de cerca de 14% em relação aos quase 1,5 milhão de barris/dia de 2004, quando a produção da estatal caiu 3% em relação a 2003, fato inédito em 14 anos. A queda ocorreu em função de manutenção das plataformas, declínio da produção em poços da Bacia de Campos e atrasos nas entregas de algumas plataformas, como a P-43 e a P-48. A entrada em operação das duas plataformas, em dezembro de 2004 e março de 2005, respectivamente, e a previsão de arrancada da P-50, no segundo semestre, vão permitir o aumento da produção neste ano, abrindo espaço para o país atingir a auto-suficiência em 2006. "A auto-suficiência poderá ser atingida no início de 2006, mas tudo dependerá da demanda", diz o diretor financeiro da Petrobras, José Sérgio Gabrielli. A empresa projeta um crescimento de 2,4% ao ano, em média, na demanda por derivados até 2010, considerando um crescimento de 4% do Produto Interno Bruto (PIB) ao ano. Em 2004, a demanda superou as expectativas: as vendas no mercado interno de derivados líquidos cresceram 6%, as de gás, 19%; e de energia, 26%. "Para 2005, nem todos esses números serão repetidos, mas continuaremos com uma tendência positiva." Gabrielli lembra que, a longo prazo, a empresa tem um robusto programa de investimentos. O plano estratégico da Petrobras para o período 2004-2010, que será revisto até o fim deste mês, prevê investimentos de US$ 53,6 bilhões, dos quais 80% (US$ 32,1 bilhões) serão direcionados para as atividades de exploração e produção. "Entre 2004 e 2008, a empresa colocará em operação 18 novos sistemas de produção, o que aumentará a capacidade em 840 mil barris/dia", destaca Gabrielli. Segundo ele, em 1995, a Petrobras produzia cerca de 700 mil barris/dia. Só em 2005, a estatal investirá R$ 29 bilhões, R$ 7 bilhões a mais do que os R$ 22 bilhões de 2004. Adriano Pires, diretor do Centro Brasileiro de Infra-Estrutura (CBIE), avalia que o aumento da produção, aliado a uma desaceleração da demanda interna, levará a uma redução de 40% no déficit da balança comercial do setor de petróleo e derivados neste ano sobre 2004. No ano passado, o déficit foi de US$ 4,75 bilhões, 123% maior do que em 2003. O CBIE projeta preços médios do petróleo em 2005 superiores à média de 2004, mas não descarta a possibilidade de as cotações ficarem abaixo dos US$ 50 por barril no segundo semestre. Até meados de março, o petróleo dos tipos Brent e WTI registrava média de US$ 46,80 e US$ 48,99, respectivamente, aumento de 23% e 18% em relação aos valores médios de 2004, afirma Pires. "A única forma de reduzir preço nos próximos anos é via redução da demanda e isso implica recessão, o que ninguém quer", diz. Ele argumenta que, nos próximos 20 anos, a variável que determinará os preços será a demanda, e não a oferta. Dois fatores fundamentais são o crescimento da China e a recuperação dos EUA. No mercado, avalia-se ainda que a Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) tem hoje menor capacidade do que no passado para determinar preços. A Rússia, segundo maior produtor do mundo, não integra o cartel, mas tem limitações logísticas na produção. Pires acrescenta que a proximidade entre oferta e demanda cria um ambiente propício à especulação. Para Gabrielli, da Petrobras, a combinação de preço do petróleo alto, juros baixos nos EUA e forte liquidez global cria um ambiente propício para investimentos especulativos. "Há grande volume de fundos de pensão, de hedge funds, que contribuem para a alta volatilidade do petróleo", avalia. "A Petrobras tem a preocupação de não transferir essa volatilidade para o mercado doméstico, sem perder o parâmetro do mercado internacional." Essa estratégia, alvo de muitas críticas, é traduzida em uma política de preços diferenciada para o diesel, GLP (gás de cozinha) e gasolina, que representam cerca de 60% da receita da empresa. Esses derivados não seguem os preços de mercado, mas objetivos de política macroeconômica e eleitoral, aponta Pires, do CBIE. Gustavo Gattass, analista do banco UBS, avalia que os preços da gasolina e do diesel nas refinarias no Brasil têm permanecido defasados.