Título: Fatia externa do país ainda é pequena
Autor: Raquel Landim
Fonte: Valor Econômico, 02/05/2005, RUMOS DA ECONOMIA, p. F22

O ritmo de crescimento das exportações brasileiras superou a média dos países em desenvolvimento nos últimos dois anos. Antes da desvalorização cambial, em 1999, o país exportava menos que a média mundial, que inclui também os países ricos. Mesmo assim, o Brasil encontra dificuldades para aumentar sua participação no comércio internacional, que está em 1,1%. Países como China, Coréia do Sul ou Malásia mantiveram as exportações crescendo acima da média por mais de uma década. As exportações brasileiras aumentaram 26,4% na média de 2003 e 2004, segundo estudo do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi) baseado em dados do Fundo Monetário Internacional (FMI), obtido pelo Valor. No mesmo período, os embarques dos países em desenvolvimento aumentaram 23,4%. Na média mundial, a alta foi de 19%. Os países desenvolvidos - cujas vendas crescem lentamente dada a magnitude do volume exportado - registraram aumento de 15,8%. Na época da paridade cambial estabelecida no Plano Real, o Brasil era incapaz de acompanhar o crescimento mundial. De 1990 a 1998, as exportações do país subiram, em média, 4,5% ao ano. O comércio mundial aumentou 6,7% na mesma comparação, enquanto os países em desenvolvimento ampliaram suas exportações em 7,8%. O estudo do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial também demonstra que o efeito da desvalorização cambial brasileira não foi imediato. Entre 1999 e 2002, as exportações brasileiras aumentaram 4,2% por ano - mesmo patamar atingido pela média mundial. Os embarques dos países em desenvolvimento cresceram 8,1%, enquanto os países ricos aumentaram as vendas em 2,1%. "O crescimento das exportações brasileiras ainda não é um fenômeno", diz Júlio Sérgio Gomes de Almeida, diretor-executivo do Iedi. "Para decolar, um país precisa ficar acima da média dos países em desenvolvimento por 10 ou 15 anos", avalia o economista. O desempenho do comércio exterior brasileiro não conseguiu acompanhar China e Rússia, dois gigantes entre os países em desenvolvimento. As exportações da China cresceram, em média, 34,6% nos últimos dois anos, enquanto os embarques da Rússia aumentaram 30,2%. O Brasil ficou praticamente no mesmo patamar da Coréia do Sul, que atingiu 25%. O Brasil, no entanto, superou Cingapura, cujas exportações cresceram 19,8% por ano na média de 2003 e 2004. O país também está posicionado a frente da Malásia, cujos embarques cresceram 16,1%. O crescimento das exportações brasileiras ficou muito acima do México. As exportações do vizinho latino-americano cresceram apenas 8,5%. Para Almeida, o Brasil é um "tigre acidental", porque está se beneficiando do maior crescimento do comércio mundial em 30 anos. As vendas externas globais saltaram 16% em 2003 e 22% no ano passado. As locomotivas desse desempenho excepcional são Estados Unidos e China, o que beneficia o Brasil, na avaliação do diretor do Iedi. Com um perfil exportador diversificado, o país vende manufaturas para os Estados Unidos e commodities para a China. "Esse é um fenômeno mundial. Estamos sendo comprados, porque o mundo de hoje compra tudo", diz Júlio Gomes de Almeida. Na sua avaliação, falta ao Brasil agressividade no comércio exterior para aproveitar o bom momento da economia mundial. O Iedi critica a política de valorização do câmbio para conter a inflação praticada pelo Banco Central.